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sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Se doesse um pouco mais, eu morreria, mas se eu morresse as pessoas encontrariam no computador do meu quarto os arquivos mais constrangedores.

Entre um ou outro poema menos significativo.

Arrancando tufos de pensamentos com meus dedos carcomidos, eu faço a tarde passar por mim como um cortejo: fúnebre, funesta e fútil.

Desfazendo o cálculo de seus movimentos, ponho-me fora da equação e sinto muito, mesmo, por tudo que nem sabia ter feito. Alguns maus passos, contudo, minhas solas dilaceradas não negam: eu desencaminhei tudo o que sentia, nada há de surpreendente no meu coração batendo perdido.

Perdido como o paraíso vislumbrado antes da noite finda. O que foi aquele sorriso escapado por debaixo de seu cenho franzido? Um erro, um instante, um deslize? Um deslize, ou...

Ontem fui para casa pensando, ou rodando, rodando, rodando dentro de mim mesmo, em sintonia com os pneus gastos do coletivo. Por todo o caminho, sem chegar a lugar nenhum, girando ao redor de meus desatinos.

Hoje, que faço, quando por sobre os trilhos eu deitar meu destino? Que posso ser ou fazer? O que me é lícito querer? Eu quero...

Não: hoje vou me esconder atrás de pílulas pra dormir, pequenos filetes brancos bipartidos que tiram dos meus ombros todo o peso do mundo por algumas horas confusas e esquecidas. Todo, todo o peso do mundo, ido.

Todo, todo o peso do mundo, todo o peso do mundo.

Eu

estou

absolutamente

sozinho.

Enquanto posa para outra fotografia, D-us sorri satisfeitíssimo, em Sua paciência que é infinita.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Shivaree, com algumas adaptações, é outra possibilidade:

Bom, eu acho que te odeio.
Isso não é divertido?
Você está quase lá
E fui eu, neném, o responsável.
Acho que pra mim já chega.
De que trem mesmo foi que você saiu?
Eu, na verdade, não me importo.
Sou o mais sortudo dos seres humanos:
Vou dormir com você, neném,
Porque não há ninguém mais
Com quem me deitar.

Eu nunca mais vou falar com você de novo.
Vou me juntar aos fuzileiros navais,
E então navegarei calmamente para longe com algumas revistas sobre segurança.
Você escutou o que eu disse?
Não se rola escada abaixo duas vezes do mesmo jeito,
E eu simplesmente não estou nem aí:
Sou o mais sortudo dos seres humanos.
Vou dizer que te amo
Mais do que qualquer outra coisa que eu esteja vendo.

Se pessoas fossem carros, eu estaria coberto de cicatrizes,
E me apegarei à minha dignidade.
Eu comprei esta roupa velha pra cobrir o estrago,
Não a tire, pois eu não quero --
Eu não quero que você veja.


Pare de cantar essa canção.
Eu continuarei impassível como uma árvore.
Sim, você me dá enjôo,
Ô, coisa esquisita, tire suas mãos quentes de mim.
Talvez você seja da lua.
Sensatez me diz que talvez tudo isso seja precipitado.
Oh, meus ossos estão expostos.

Sou o mais sortudo dos seres humanos
E sim, eu te quero, neném,
Mais do que qualquer outra coisa
Mais do que qualquer outra coisa
Mais do que qualquer outra coisa
Nesta sala.



Pois é. Bossa Nova.

Sei lá como eu me sinto.

Zélia Duncan diria que eu quero, vou, fui, não vi, voltei.

Olhos pra te rever, boca pra te provar, noites pra te perder, mapas pra te encontrar. Fotos pra te reter, luas pra te esperar, voz pra te convencer, ruas pra te avistar.

Calma pra te entender, verbos pra te acionar, luz pra te esclarecer, sonhos pra te acordar. Taras pra te morder, cartas pra te selar, sexo pra estremecer, contos pra te encantar.

Silêncio pra te comover, música pra te alcançar. Refrão pra te enternecer. E agora só falta você.

Meus verbos sujeitos ao seu modo de me acionar. Meus verbos em aberto pra você me conjugar: quero, vou, fui, não vi, voltei, mas sei que, um dia, de novo, eu irei.




Sei lá eu o que sinto.

Ouço no momento a melodiosa e naturalmente peitudíssima Dolly Parton, cantando um clássico da musica country americana, com mais duas cantoras de cujo nome só lembro o da Linda Hondstat. A música chama-se Memories of You, ou algo assim. Ah: Those Memories of You.

Anywayz, o que eu quero mesmo é postar minha tradução para There Is No Arizona, o big hit de Jamie O'Neal.


Ele prometeu a ela uma vida nova e melhor
Lá no Arizona
Debaixo do infinito céu azul
Ele disse que iria
Ajeitar as coisas e daria um jeito de buscá-la
Quando a deixou para trás
Nem passou pela mente dela

Que não haveria nenhum Arizona
Nenhum Deserto Pintado, nada de Sedona*
E que, se houvesse um Grand Canyon,
Ela poderia enchê-lo até a boca com as mentiras que ele contou
Mas eles não existem, os sonhos que ele lhe vendeu
Ela acordou e descobriu que não há nenhum Arizona

Ela recebeu um cartão sem endereço no remetente
Um túmulo postal
Que dizia “não sei para onde vou, daqui,
Mas quando descobrir, te conto”
Maio, junho, julho, e ela imagina
Porque ainda está esperando
Ela vai continuar esperando

Porque não há nenhum Arizona
Nenhum Deserto Pintado, nada de Sedona
E que, se houvesse um Grand Canyon,
Ela poderia enchê-lo até a boca com as mentiras que ele contou
Mas eles não existem, os sonhos que ele lhe vendeu
Ela acordou e descobriu que não há nenhum Arizona

Todos os dias, quando o sol se põe no oeste
Seu coração afunda um pouco mais em seu peito
E os amigos ficam perguntando quando ela vai
Até que finalmente ela lhes pergunta,
“Vocês não sabem?
Não há nenhum Arizona!
Nenhum Deserto Pintado, nada de Sedona!”
Se houvesse um Grand Canyon,
Ela poderia enchê-lo até a boca com as mentiras que ele contou
Mas eles não existem, os sonhos que ele lhe vendeu
Ela acordou e descobriu que não há nenhum Arizona

Ele prometeu a ela uma vida nova e melhor
Lá no Arizona



* Deserto Pintado e Sedona são localidades famosas do Estado do Arizona.

Saudades da CMT.

E se eu pudesse/conseguisse falar palavrão em português?

Eu me viraria e diria, "c@r@##*, cê não tá percebendo que tudo isso é provavelmente porque ya tebya lyublyu? P¨t# que pa#%$!! Até quando, essa palhaçada toda? Reage, p%rr#!!"

Mas aí viriam os pensamentos paralelos, e eu me lembraria da Corrida Maluca, e daquele carinha de roxo gritando "Mutley, faça alguma coooooisaaaaa!" enquanto era esmagado por uma pedra ou caía em algum precipício, e também da história que me contaram sobre a expressão "até quando", anedota imprópria para este singelo webcanto que tem no momento o privilégio de ser seu imerecido objeto de leitura.

Eu meio que não gosto de quintas, sabe.

E eu disse "provavelmente" aí em cima pela mais justa das razões.

Solidão, muita solidão.

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Sentado em minha cadeira de rancores, paredes rancorosas que me roubam o ar, o estômago dói, mas eu não ligo.

O que eu estou vendo do outro lado? Eu vejo a um molde de mim mesmo em barro. Ele olha fixamente pra mim, (sim, eu estou com medo) mudando o formato de seu rosto.

O garotinho cometeu um engano, e a nuvem cor-de-rosa ficou cinza. "Tudo o que eu queria era brincar". De joelhos: hora de rezar, garoto.

Eu não ligo, eu não ligo, eu não ligo. Perdi a cabeça, mas eu não ligo. Não consigo encontrá-la em lugar nenhum, mas não me importo.

Permanecemos prisioneiros das corporações: "Sou um garoto sem graça, trabalho o dia inteiro, então estou, de um jeito ou de outro, viciado."

A solidão não é uma fase. Num campo de dor, eis onde eu pasto. A serenidade está muito longe.

Eu vi meu reflexo e chorei: tão pouca era a esperança, que eu morri. Alimente-me com suas mentiras, estou abrindo minha boca ao máximo. O que importa é o peso do meu coração, não o tamanho.

"Tudo o que eu queria era brincar".

De joelhos.

Hora de rezar.


Eu tomo muito café, ou é outro o motivo pelo qual meu coração bate descompassado?

Arritmia taquicardia ahoy.

Eu tentei, o dia inteiro, e nos últimos três dias, mas não encontro nenhuma palavra ou expressão ou enredo que dê conta da infinita tristeza que eu estou sentindo.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

E eu tinha imaginado um final de filme americano, com direito a lágrimas e um abraço (ou um abraço e lágrimas; a ordem é o de menos).

Mas aí veio o Marechal Guedes, por quem duas meninas choraram, e monopolizou a atenção de todos pelo resto da tarde. Não houve espaço para maiores dramas.

Marechal Guedes (acreditem) é um cachorro.

Mais quadrinhos:


-- Eu tô assustada, Maureen.
-- Eu sei.
-- Eu sou mutante.
-- Não, Katherine. Você é um ser humano. Minha paciente. Cabe a você definir sua vida e seu futuro. Desista ou resista. Enquanto estiver respirando, há opções... escolhas... possibilidades. E não é necessário enfrentá-las sozinha.
-- Então... por onde a gente começa?


Essa foi Kitty Pryde, no último capítulo da mini-série Mekanix (conforme apresentada em X-Men Extra 26, fevereiro/2004, editora Panini), conversando com sua analista, depois de revelar sua condição genética a ela.

Eu também sou mutante, mas ao contrário da garota judia de Chicago que já usou roupa de couro preta e amarela com um X no cinto, não atravesso paredes.

Tenho como único poder meter os pés pelas mãos e destruir em hipervelocidade qualquer coisa que eu, porventura, e a muito custo, consiga construir. Seja o que for.

E ao contrário, também, da mutante dos quadrinhos, eu não tenho alternativa a não ser enfrentar os resultados das minhas escolhas sozinho. Desisto? Resisto?

Por onde eu começo?

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

De acordo com meu querido Merriam-Webster,

SULLEN implies a silent ill humor and a refusal to be sociable: "remained sullen amid the festivities".

Is that why they call me a sullen man?

A sullen man.

Talvez seja esse mesmo the way of things, mas muitas das coisas verdadeiramente importantes que eu já postei aqui passaram em brancas nuvens, sem um único comment.

É assim mesmo?

Uma das seqüências de quadrinhos que mais me marcaram na vida está no Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.

Lá pelas tantas, quando o Morcego reassume o manto e os primeiros boatos chegam à mídia, lá está o Coringa largado feito um saco de lixo no canto de um manicômio, em frente à uma televisão, totalmente catatônico.

Ao ouvir a jornalista pronunciar o nome de seu nêmesis, seu olhos se acendem, e os lábios, até um minuto antes mero escoadouro de saliva, balbuciam:

-- B-b-b-b-b-b-b... Batman.

...até arreganharem-se num sorriso de maldade quase absoluta, mostrado em close no quadrinho seguinte, onde se lê, tão-somente:

-- Querido.

E aí, eu fiz menção de perguntar à máxima potência de meus pulmões:

-- Oras, por quem sois?

Mas eu me lembrei, procurei por um lugar mais calmo e deixei que me viesse à mente:

Eu não falei. Eu não pensei. Eu não tinha quaisquer motivos.
Eu não tentei. Eu não comecei. Eu não tinha sequer sugerido.
Eu fui, sim, e abri o peito e as portas dos meus pensamentos.
Eu quis, sim, e ainda continuo querendo.

Eu não menti. Eu não fugi. Eu não estava me escondendo.
Eu não fingi. Não esqueci. Só não estava pretendendo.
Eu disse, sim, com meus dois olhos que a terra já está comendo
Que eu quis, sim, e ainda continuo querendo.

Se começássemos outra conversa eu satisfaria sua curiosidade.
A imensidão da sua covardia eu preencheria de verdades.
Fosse este qualquer outro dia eu não passaria vontade.


Então, quando voltei, por muito pouco tudo continuava o mesmo.

Melhor deixar tudo assim.

Hehehehe!

Eu chutei a pedra errada e acho que o mundo à minha volta está desmoronando outra vez! :)))

Bom D-us!! O Senhor acha mesmo que ainda me importo com isso?

;)

Olha!

Ao redor da minha cabeça tem um monte de Lars Ulrichs em miniatura freneticamente batucando as melodias de St. Anger. Ele faz cara de fuinha, e o Hetfield acompanha, esgoelando-se (dele, vejo só o rosto, flutuando como um balão avermelhado de cavanhaque).

A cada suspiro eu encho meus pulmões de sândalo, já que a tiazinha jogou fora o lenço de papel onde eu pingava essência de majericão.

Essência de manjericão traz boa sorte e afasta o mal e a inveja, segundo o rótulo da Basil (importado e distribuído por Esotérica Arte Ltda.). A de sândalo tem outros fins.

-- This is the voice of silence no more!!, gritou Jimmy.

Alguma coisa no andar dos últimos dias estancou o fluir do tempo. Ainda concordo com o artigo da Scientific American Brasil segundo o qual o tempo (como o entendemos, se que é temos capacidade de entender algo do tipo) não existe.

Meu estômago faz nhóim, em represália à minha abstinência de alimentação.

São cinco e quarenta e cinco. Se eu soubesse como, ficaria até as oito escrevendo limericks.

Mas eu não sei escrever limericks (acho que nunca nem tentei), e então só me resta usar as pessoas que me rodeiam em meu videokibe mental de Shoot Me Again:

Shoot me again, I ain't dead yet
Come on, shoot me again, I ain't dead yet
I said shoot me again, I ain't dead yet
Come on, shoot me again, I ain't dead yet

Come on shoot me again, shoot me again, shoot me
Shoot me again, shoot me again
Come on shoot me again, shoot me again, shoot me
Shoot me again, shoot me again
Come on!

All the shots I take I spit back at you
All the shit you fake comes back to haunt you
All the shots
All the shots
All the shots I take -- what difference did I make?


De fato.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

E por falar em Personals, ontem as pessoas de meu trabalho divertiam-se a não mais poder com os muitos perfis e fotos postados no Amigos Virtuais do UOL.

Motivos de riso a quem se diverte com a solidão alheia não faltarão, já que "uma rápida consulta a portais de pesquisa na internet aponta para mais de 1.000 resultados", usando-se como string de busca a expressão namoro on-line.

Com base em fontes não divulgadas, o terceiro desses resultados, com o improvável endereço http://www.seropedicarj.com.br/namoro, afirma logo em sua página de abertura que "67% dos namoros virtuais dão certo" e "às vezes dão em grandes casamentos". O leitor precavido, logicamente, desconfia, ainda mais quando a um dado tentador desses segue-se o link de cadastramento no site.

Minha experiência diz que a maioria desses relacionamentos virtuais dá em absolutamente nada. As projeções são tão incontáveis, tanto de si mesmo quanto da pessoa desejada, que a realidade é sempre e inevitavelmente uma grande decepção para alguma das partes, senão para ambas. Quem já perdeu noites aventurando-se por salas de bate-papo sabe como é isso.

Uma busca um pouco mais séria ilustra o que há por trás dos relacionamentos virtuais. Walter Marques do Nascimento, em um trabalho acadêmico voltada para a área de psicanálise, escreve:

Um dos “fantasmas” que esta revolução trouxe, é o fantasma da solidão. O medo fez com que a socialização se tornasse cada vez mais difícil. Para suprir esta necessidade de contato afetivo, social e intelectual, algumas pessoas – na realidade bilhões – foram aderindo (ou melhor, foram substituindo), a uma nova maneira de se comunicar, de fazer novos relacionamentos: os relacionamentos virtuais.

Mais à frente, citando uma colega, ele faz alusão a um fenômeno notório:

Gabriela Machado Guimarães, estudante de psicologia na UFSC, nos mostra esta realidade ao afirmar que “através do monitor todos são bonitos, espertos, inteligentes. É um jogo, um grande baile de máscaras, em que se vivenciam personas e fantasias. Aos poucos, as máscaras vão caindo e as pessoas vão se mostrando mais cruamente, despidas, desnudas”. Quantos não usam a Web para projetar numa relação virtual o que ele desejaria ser!

Eu não vou entrar em pormenores, nem repetir o que a imprensa nacional já tem explorado bastante há algum tempo. Esta reportagem da revista Galileu, por exemplo, chega perto da estatística citada mais acima e afirma que 72% dos chatters brasileiros de encontram pelo menos uma vez, sendo que cerca de 60% continuam o relacionamento.

O que quero dizer com este post superficial e mal-escrito é que me escapa completamente o ridículo de se buscar companhia pela net, talvez por eu mesmo já ter incorrido nesse... como definir a atitude de submeter-se ao escrutínio alheio, e correr risco atrás de risco de frustração e desencontro na esperança de, quem sabe, deparar-se com a tal alma gêmea (ou, pelo menos, com uma companhia decente para algum tempo)?

Foi-se o tempo em que um perfil num site de relacionamentos virtuais era sinônimo pura e simplesmente de fracasso na vida pessoal off-line. Com um tempo para socialização cada vez menor diante de tantas pressões e compromissos, qualquer um pode encontrar na internet alternativa para aquele agora impossível passeio de final de tarde, em que o "destino" se encarregaria de fazer cruzar os devidos caminhos.

No fundo, no fundo, quase nada muda: o espaço é virtual, mas as regras básicas continuam as mesmas. Que sera, sera -- whatever will be, will be.

Lê-se em uma coluna virtual de etiqueta, assinada por Cláudia Matarazzo:

A Internet possibilita uma nova era da paixão platônica, em que pode-se manter relacionamentos radicalmente virtuais por um longo tempo, se não se quiser marcar um encontro real. Mas a rede também é um templo para namoros virtuais de Casanovas e Dom Juans que não se preocupam com os sentimentos alheios ou mesmo se estão traindo ou não - ainda que apenas na Internet. Na rede conhecemos muitas pessoas, em pouco tempo e de todos os lugares do mundo. Por essa razão, pode parecer mais fácil namorar no mundo virtual do que no real. Talvez até seja. Contanto que mantenhamos alguns parâmetros.

(...)

Seja educado. A Internet, como qualquer outro ambiente, permite relacionamentos e assédios nas mais diferentes formas e estilos. Usar o seu tempo e dos outros com elegância é uma questão de estilo.

Gentileza é fundamental. Assim como no mundo real, ninguém gosta de abordagens grosseiras, cantadas agressivas e pouco criativas. Use a imaginação – como é a regra no relacionamento virtual – desde a primeira "teclada"...

Mantenha o foco. Aproveite todas as oportunidades que a rede lhe proporciona para atrair as pessoas que se afinam com você, aumentando as chances de um relacionamento pleno e gratificante.


É pena que nem todos pensem assim.

Por via das dúvidas, enquanto eles riam a ponto de ficarem com os olhos cheio de lágrimas, eu muito discretamente apaguei o meu perfil.

But then, who knows what they're really looking for?

Yahoo! Personals is about one thing... Real People.

My question is about one thing... if they're so nice and good-looking and available and are there right by each other (at least for the photo shoot thing), what the heck is keeping them from each other's arms and hearts?

The Human Being is about one thing... missing opportunities.

Eu atravesso as horas a braçadas lentas, como se o período que me separa das seis da tarde fosse uma piscina de areia movediça, quente e lodosa.

A muito custo consegui não dizer mais que meia centena de palavras desde que cheguei. Como saio às oito, a contagem deverá ser extremamente baixa para um dia "útil" inteiro, e se assim for, ficarei feliz.

Olhares de soslaio me irritam.

Estou ouvindo Deceivers: Third Machine. Faixa 7. Muitas coisas interessantes a respeito do grupo brasiliense de metal/rap/hardcore (como eles se definem) -- a começar pelo inglês do vocalista, que é muito bom.

O Carnaval se aproxima sem maiores perspectivas além da possibilidade de ouvir música a todo volume ao longo do dia: todos viajarão. Vou ter que fazer comida? Ainda não ganhei meu passe para a Confraria Secreta dos Fazedores de Bom Arroz. Vou ter mesmo que fazer comida?

Ah. Quem precisa comer, anyway.

Muito mais eu lucrarei tirando largas fatias do meu tempo para explorar os arredores da estação Presidente Altino.

Quando ela pensou que eu tinha ido eu resolvi ficar.
Quando ela pensou que eu tinha ido eu revolvi voltar
Porque
Eu fico sintonizado em todas as energias do seu corpo estrelado.
Eu fico sintonizado em todas as energias do seu corpo estrelado e tudo bem.

Quando ela prensou bebendo vinho eu pressenti no ar
Que ela sacou que eu vinha vindo e eu resolvi chegar
Porque
Eu fico sintonizado em todas as energias do seu corpo estrelado.
Eu fico sintonizado em todas as energias do seu corpo estrelado e tudo bem.


Debaixo do meu chapéu
Com o nariz gelado
Maxigola quente soando diferente.

Meu chapéu tipo Bob Dylan
Me ajuda a pensar
Nos timbres e nas cores da minha música.

Senta e me aqueça com sua paciência
Toda a circunferência da minha cabeça.


segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Segunda-feira, quatorze e três


I


A paisagem era diferente, bem diferente do que ele estava acostumado, apesar de ser exatamente a mesma de todos os dias.

Uma nuvem escura e baixa a nordeste de sua posição parecia uma caravela.

-- Brmmmmm,

foi o que ela disse.

Ricardo Menezes desceu do trem e subiu pela mesma escada de sempre, ainda espantando com a diferença que faz sentar na primeira janela do trem que percorre em velocidade moderada a Marginal Pinheiros. Tendo viajado de cabeça baixa, olhar fazendo um ângulo aproximado de 45º com relação ao solo, notou tantos detalhes do caminho entre a estação Cidade Universitária e a Villa-Lobos/Jaguaré que parecia estar ali pela primeira vez.

A expectativa diante do contato iminente só fazia aumentar sua excitação geral, ainda que nenhum passante jamais notaria sinal algum de nervosismo: chamavam-no de Dirty Harry, por parecer inalterável mesmo nos momentos mais extremos. Aquele era um momento extremo. Parou no meio da passarela que conduzia a uma das praças que circundam a ponte, como se olhasse absorto o contorno urbano recortado pelos prédios no horizonte. Olhou para o relógio, sem qualquer expressão: 13h53.

Como sempre.



II


Helena McPherson sorriu gentilmente para o funcionário da alfândega que coletava suas digitais e imagem, conforme determinavam as novas diretrizes da governo brasileiro. "Princípio da reciprocidade". Sorriu um pouco mais significativamente ao lembrar desse detalhe, que trouxe consigo imagens vagas de uma aula de diplomacia perdida nos idos de 1985, quando ainda estudava para ser agente de campo da CIA.

Colado a conceitos que, por força do hábito, ela poderia recitar até de trás para frente, veio o rosto de Bobby O'Neal. Eles poderiam ter sido felizes juntos, não fosse o 11 de setembro. Bobby estava infiltrado em uma lanchonete no 87º andar da Torre I. Nunca encontraram qualquer vestígio dos últimos minutos de sua existência – e nem poderiam, sob risco de prejudicar a operação em andamento. Para o resto do mundo, foi o cadáver do canadense Wilbert Anderson Jeffries a ser identificado e enterrado com honras. Providenciaram uma família postiça para chorar em seu enterro. Ela fez questão de ser a noiva enlutada, e foram muito verdadeiras suas lágrimas.

Quando fiscal perguntou pela terceira vez se estava tudo bem, ela sorriu novamente e seguiu para onde teria devolvida sua bagagem. O aeroporto internacional de Guarulhos estava agitado, como seria de se esperar numa segunda-feira. Olhou para o relógio e precisou piscar algumas vezes para clarear os olhos marejados e enxergar o caríssimo mostrador de cristal líquido: 1:53 PM. Pensou por dois ou três segundos antes de decidir pelo ponto de táxi ou pela cabina telefônica mais próxima.



III


Stephanie soube que era lésbica assim que viu Sharon Stone interpretando a assassina Catherine Tramell em Instinto Selvagem: naquela cruzada de pernas, ela entreviu todo um universo, novo e muito mais pleno de sentido.

Seu Rodrigo, que descobriu na filha única uma inusitada mas fiel companheira para o futebol e a cerveja de final de semana, apelidou-a de Ro-Ro, por causa do jeito bonachão, da voz rouca e dos olhos claros e amigos daquela que era o único fruto positivo de uma relação falida.

Na verdade, Stephanie foi o ombro amigo que o amparou quando se descobriu que Dona Mildred tinha caso com um primo desde a adolescência. Cogitou-se a hipótese dela não ser filha dele, mas toda a tensão resultante do processo envolvendo o exame de DNA somente os uniu mais ainda. Desde o divórcio, pai e filha saíram muitas vezes juntos para as mesmas boates em busca de companheiras, que, não raro, conseguiam.

Ro-Ro ainda sentia as conseqüência do domingo quando acordou, às 10 horas da manhã daquela segunda um tanto nublada. Zonza, logo percebeu que não chegaria a tempo, e decidiu desencanar do compromisso que, durante os meses de constantes contatos, parecia mais importante que continuar existindo. Espreguiçando-se gostosamente, fez pose para o espelho do banheiro e confiou em seu jeito tranqüilo para resolver tudo com um sorriso e meia dúzia de palavras doces.

Tomou café com Seu Rodrigo e Analice, conquista da noite recém-finda. Olhou para a televisão por algum tempo, folheou o caderno de esportes e decidiu, ao abrir o caderno de variedades, sair. Vinte e seis minutos de ônibus depois, e outros vinte de caminhada, adentrou o Shopping chiquérrimo e marchou direto para o cinema. O visor do celular avisava: 13h53 – bem a tempo para a sessão das duas do último filme da gatíssima Nicole Kidman.



IV


Se fosse personagem de um conto, Josué sabia que seria algo despretensioso e tinha absoluta certeza de que seria o último personagem a ser introduzido.

Dizia o Toninho da Light (como era conhecido seu pai, medidor de luz desde os quinze anos):

-- Você é um zero à esquerda. Um monte de estrume. Só me dá vergonha. Mais vantagem pra mim seria se você tivesse morrido embaixo do carro de onde eu nunca deveria ter te tirado.

Entre essas e outras manifestações de carinho (aqui amenizadas em respeito à suscetibilidade dos possíveis leitores), e repetidas referências a um acidente quase ocorrido, Toninho alimentou e abrigou o filho até que ele se tornasse aquele poço, sem fundo, diria-se, de ódio, frustração e amargura.

Amor de mãe ele não conhecia. Teve, sim, uma idéia do que tal dádiva poderia ter sido por meio de uma avó, único ser humano na face da Terra a tratá-lo dignamente, e até a ter alguma fé em seus potenciais esquecidos. No enterro dela, quando ele tinha doze anos, Josué derramou suas últimas lágrimas, rascunhando ali o assistente administrativo seco e ressentido que se tornou aos vinte e sete anos, e que seria provavelmente até a aposentadoria, quando (acreditava) morreria praticamente indigente.

Sua mãe ainda existia, sim, contrariando estatísticas e a lógica mais rasa. Na favela onde todos eles ainda moravam, Darlete era conhecida pelos favores que concedia em troca de drogas, geralmente crack ou cocaína. Iniciou mais aviões que qualquer prostituta das redondezas, como seus vizinhos (muitos deles tendo passado pela experiência) nunca o deixavam esquecer. Muitas vezes Josué a encontrou caída em becos, bêbada, quando saía de madrugada para o trabalho, atrasando-se para arrastá-la para dentro do barraco onde seu pai fingia dormir. Ao fechar a porta atrás de si, ele já sabia a cena que se seguiria, e com o tempo aprendeu a cegar a vista para as manchas roxas que ela fatalmente apresentaria à noite.

Naquela segunda Darlete dormia calmamente, tendo sido uma das poucas noites do ano em que fazia amor com o próprio marido. A felicidade do casal, porém, não se refletiu no arremedo de vida profissional do filho mais velho (dois morreram em confrontos com a polícia): os seguidos atrasos culminaram, enfim, na já antecipada demissão. O processo foi humilhante demais para ser descrito, basta dizer que enquanto seu chefe o descompunha diante dos colegas, uma única lágrima quase se formou em seu olho esquerdo.

Somente o ódio a conteve.

A manhã inesperadamente livre o levou a descaminhos, e quando percebeu encontrava-se numa esquina infame da Boca do Lixo. Mal acreditou quando, quinze minutos depois de ventar suas mágoas e revoltas a um comparsa de antigos deslizes – figura de livre trânsito entre policiais e bandidos –, este depositou a seus pés como se fosse um enorme cachorro adormecido uma mochila preta, contendo uma sub-metralhadora israelense pronta para uso.

Estranhamente resoluto, entregou para o “amigo” todo o dinheiro da rescisão, tomou outra dose de conhaque e seguiu rumo à estação Julio Prestes da CPTM. De lá, subiu e desceu de trens e estações a esmo, em transe, indo e voltando, até que, pouco antes das duas, algo lhe chamou a atenção e ele desembarcou em definitivo na estação seguinte.



V


Lagostim não apareceu mesmo. Ricardo admitiu-se, talvez pela primeira vez em trinta e seis anos de vida, humilhado e abatido. Lagostim mentiu, desistiu, foi fraco, não sentia nada, fez pouco de sua decisão de enfrentar todos os riscos possíveis e imagináveis... todas as alternativas se sobrepunham e potencializavam, umas das outras, o gosto de derrota.

Subitamente deu-se conta do risco que estava correndo, da loucura que tinha sido marcar num local tão inóspito um encontro daquela natureza. A necessidade de dar um basta àquela situação que se arrastava já por dois anos, justificaria? E se fosse uma armação da corregedoria, e se seus contatos tivessem sido todos registrados e estivessem agora na mesa de alguém, que estaria apenas à espera do momento certo para fazer chafurdar na lama a carreira daquele que era, até então, um dos mais incorruptíveis delegados da Zona Oeste de São Paulo?

Sua vida pessoal não deveria importar tanto, mas, num meio conservador como era seu ambiente de trabalho, Ricardo “Dirty Harry” Menezes não tinha ilusões quanto à tolerância dos colegas a um caso de amor entre um oficial catimbado e um informante conhecido. Não que não houvesse vários exemplos, inclusive notórios, mas todos mantinham suas esposas e famílias de fachada, coisa que ele se recusou a fazer. Divorciou-se de Silvana três anos antes, quando percebeu que não poderia mais mantê-la sem mentir e feri-la injustamente, a ela e aos dois filhos que nada tinham a ver com isso.

Olhou para o relógio de novo, como não resistiu e acabou fazendo a cada trinta segundos nos últimos quinze minutos. 14h03. Pensou ter ouvido sons agudos ao longe, mas talvez fosse apenas outro trem chegando.

Naquele momento algo dentro dele se partiu, e o choro veio mais forte e mais rápido que suas tentativas de contê-lo. Todos os momentos vividos aos lado do ex-traficante e contrabandista de pele avermelhada (daí o apelido) sobrecarregaram sua mente e ele apoiou a cabeça sobre os braços cruzados sobre o parapeito da passarela e, convulso, esqueceu-se, alheio aos olhares piedosos dos passantes e ao vento que carregava suas lágrimas até o pára-brisas dos carros que passavam em profusão poucos metros abaixo



VI


Quando ela pôs o telefone no gancho, o mostrador do relógio de preço inversamente proporcional ao tamanho piscava, impassível, 2:03PM.

O pulso muito branco que o portava estava levemente trêmulo, mal transmitindo a intensa agitação interior da jovem estadunidense. Ela se achava ainda jovem aos quase trinta e um anos, pelo menos. Jovem e independente, e vivida e altamente capacitada para lidar com qualquer situação, integrante que era do mais famoso órgão de inteligência da mais poderosa nação do planeta.

Ainda assim, não houve em sua mente estratégia que a preparasse para o estranho sons que ouvira ao telefone. Eram risos? Significaria aquela estranha risada abafada que as horas de viagem na classe econômica haviam sido em vão? Pensou em ligar de novo, mas conteve-se. Ameaçou também chorar, pegar o primeiro vôo de volta para Los Angeles, gastar todo o saldo de seu cartão no free shop e simplesmente sentar-se no chão, perdida.

Helena não era, contudo, mulher de se dar por vencida, e não seria agora, que finalmente resolver explorar novos aspectos da sua sexualidade, e que encontrou em uma brasileira, depois de meses de contatos por internet, correio, telefone e muitos, muitos sonhos, um porto seguro onde repousar depois de quase dois anos de tensão non-stop, não seria agora que ela entregaria os pontos, e desistiria de tudo sem lutar até o fim.

Pegou o telefone determinada, dominou sua tontura e discou com firmeza o número da casa de Stephanie. Arrependeu-se por não ter aprendido português quando teve a chance, pois Seu Rodrigo não entendeu palavra do que disse. Por sorte, Analice sabia comunicar-se na língua de Shakespeare o suficiente para lhe dizer que a garota havia saído poucas horas antes, para ir ao cinema.

Sentindo-se totalmente ultrajada, relegada à condição de encomenda indesejável, Helena sentiu o chão faltar-lhe sob os pés. Pensou novamente em Bobby O’Neal, em como ele jamais teria feito isso, e arrependeu-se por ter confiado na amabilidade da garota latina, no calor de seu sorriso, em suas promessas doces e sem fim. Respirou fundo, levantou a cabeça como uma rainha recebendo sobre os ombros o manto sagrado da dignidade e, num gesto de extrema condescendência, discou ainda uma última vez o número do celular da menina.

Sem resposta.

Pois bem. Desejou que ela aproveitasse bem seu filme e deu meia-volta, dirigindo-se ao balcão de sua companhia aérea para saber como converter o restante de sua milhagem acumulada em uma passagem de última hora para o Rio de Janeiro, lembrada que foi de sua existência por um cartaz prometendo em fevereiro um carnaval de homens e mulheres bonitas.



VII


Josué acomodou-se na escuridão do cinema sem se incomodar com o fato de estar sentado na primeira fileira. Na verdade, em que pese o vazio da sala àquela hora da tarde, ele fez questão de sentar-se ali. Era preciso. Assim que as luzes se apagaram, ele começou a abrir lentamente o zíper da mochila.



VIII


Stephanie sentiu uma pontada no peito e quis levantar-se. Era o remorso por ter deixado Helena sozinha no aeroporto, por ter sido irônica com o fato dela ser agente da CIA – e, supostamente, não ter problemas para encontrá-la onde quer que estivesse.

As luzes, contudo, apagaram-se naquele exato momento, e a idéia de ver Nicole Kidman atuando ao lado de Jack Nicholson apagou, simultaneamente, todas as demais. Ms. McPherson era, afinal, agente da CIA, e se uma agente da CIA não pudesse localizá-la em uma sala de cinema de um shopping relativamente vazio, o mundo estava mesmo perdido, assim como ela estava perdida em seus pensamentos, a ponto de esquecer-se de desligar o celular.



IX


The Human Stain.

Ou, “Revelações”, como apareceu na legenda.

A cocaína que ele surrupiou da gaveta da mãe fazia seu coração quase explodir dentro do peito. Cada novo pensamento aceleradíssimo mal encontrava ligação com o anterior antes de ser imediatamente esquecido. A única constante era a certeza de que aquilo era o que deveria ser feito, era o único caminho. Josué soube disso desde que aquele primeiro rapaz protagonizou uma cena parecida e se tornou uma celebridade instantânea – virou alguém.

E ele merecia ser reconhecido. Se não por seu valor, ao menos pelo barulho que poderia causar. Monte de estrume, sim. Queria ver o Toninho da Light fazendo aquilo. Ele não era homem para isso não! E sua mãe... hah!, sua mãe! Provavelmente estaria tão chapada quando ele aparecesse no Jornal Nacional que não teria nem a capacidade de reconhecer, no rosto por trás do apresentador, seu próprio filho. Ele teria cuidados médicos, e regalias, e daria muitas, muitas entrevistas, falaria por telefone aos programas vespertinos, daria depoimentos sobre sua infância sofrida, quem sabe até acrescentaria alguns detalhes sujos para acabar de vez com a reputação já quase inexistente do homem que dizia que seria melhor se ele, Josué, tivesse morrido.

Febril, o assistente administrativo desempregado não percebeu que havia passado do pensamento para o murmúrio e deste, em rápidos estágios, para os gritos. Os poucos espectadores, em pânico, corriam para as saídas de emergência, às vistas do homem armado vociferando em frente à tela, vestindo cenas do filme e, vez por outra, um pedaço do rosto da Nicole Kidman.

Stephanie desesperou-se logo no primeiro grito. Incapaz de mover-se, deixou-se cair por debaixo da fileira de cadeiras da frente. Rezava para passar desapercebida até que alguém tomasse qualquer atitude. Não queria de forma alguma morrer, pensou com uma intensidade absurda em sua nova namorada americana que, se algo acontecesse, jamais conheceria, e por que ela não podia ter acordado um pouco mais cedo para buscá-la em Cumbica ao invés de insistir em brincar com o destino?

Nem por um momento preocupou-se, nem mesmo jamais soube, que eram exatamente 14h02 quando seu celular fez ecoar na sala já vazia – exceto por ela e pelo homem em rompantes de fúria narcisista – a música da Marina que ela havia escolhido na ausência de alguma da Ângela Ro-Ro.

Antes que pudesse tentar pela terceira vez acertar o botão de desligar, Josué já estava sobre ela, pairando acima das fileiras como uma aparição: um contorno escuro contra as luzes fugidias. Ele apertou o gatilho sem por um segundo alterar o tom de seu discurso inflamado, ainda que tenha se impressionado com a quantidade de balas que perfurou o corpo da garota e com o sangue que ela passou a verter em um misto de tosse, soluços e gorgulhos. Desfalecendo, Stephanie acertou o botão de receber, e pateticamente colocou o fone junto ao ouvido antes de seu último suspiro, quando sua cabeça, pendendo, desligou pela última vez o aparelho.

Às 14h03 um segurança invadiu o recinto e rendeu Josué com dois tiros certeiros em um braço e uma perna. Apesar da truculência dos oficiais que o conduziram até umas das muitas viaturas que aguardavam à porta do shopping, ao ver todas as câmeras e microfones que apontavam para seu rosto, Josué da Silva Ferreira não pôde conter um sorriso.



X


Apesar da passagem comprada, Ranael “Lagostim” dos Santos perdeu o ônibus das duas e três para Goiânia.

Denunciado anonimamente por contrabando e tráfico de armas depois de uma transação realizada na Boca do Lixo naquela manhã, e em fuga desde então (não tinha andando cem metros quando os primeiros policiais tocaiados vieram em sua direção), Lagostim poderia ter matado Dirty Harry com as próprias mãos pelo simples fato dele ser, provavelmente, o único delegado de São Paulo que não usa telefone celular.

Escapando a princípio por pura sorte, entrando e saindo de prédios de onde ia roubando as peças de roupa com que reaparecia, chegou até a rodoviária do Tietê e comprou duas passagens para destinos distintos – Goiânia, onde moravam parentes, e Montevidéo, que sempre quis conhecer. Embarcaria no que parecesse mais seguro.

Não contava, entretanto, com a percepção repentina de que não poderia partir sem esclarecer as coisas com o delegado Menezes, a quem começara manipulando há quase dois anos visando tão-somente as vantagens de ter costas quentes na polícia, mas com quem acabou se envolvendo mais do que pretendia, como descobriu naquele momento.

Olhou para o relógio, eram 13h53, não teria tempo para mais nada... a não ser para comprar folha e envelope, rascunhar o endereço de Goiânia (tinha-se decidido, então) e colocá-lo no correio. Não confiaria em telefones tão cedo.

Tudo teria dado certo se o inusitado de suas roupas, de tamanhos incongruentes, e sua afobação não tivessem chamado a atenção do cabo Jefferson, da Polícia Militar, que fazia a ronda na estação. Detido, não convenceu ao explicar a razão pela qual teria dois mil reais de um suposto primo no bolso traseiro, embrulhados ainda na documentação demissional do assistente administrativo que, naquele exato instante, cometia seu primeiro homicídio.

Preso na Zona Norte, pouco adiantou a Lagostim mencionar o nome de um delegado do Jaguaré. Tentou ligar para a delegacia, mas lembrou-se de que Menezes estaria naquele momento esperando por ele na saída da estação de trem.

Só lhe restou respirar fundo antes de apanhar como nunca na vida.

Cabo Jefferson, contudo, ficou curioso quanto ao tal delegado e guardou o telefone em seu bolso, prometendo a si mesmo ligar assim que tivesse tempo.



XI


Segunda-feira, quatorze horas e três minutos.

Ao invés de ter desembarcado na estação Villa-Lobos/Jaguaré às treze e cinqüenta e três como sempre, já estou aqui há quase quarenta minutos – até mesmo almocei. Ainda assim, por descuido, tive o dom de bater o cartão com um atraso de três minutos.

Deve haver algo mais no mundo acontecendo além disso.


sexta-feira, fevereiro 13, 2004

O Nedstat é uma ferramenta muito interessante.

De que outra forma eu saberia que as pessoas vem aqui atrás de:

- blusinhas de crochê;
- oxiúros;
- cultura maranhense;
- idade a partir da qual a maritaca come sozinha;
- "bbb4 letra da musica os gato da prova da comida" (sic); e
- cartões telefônicos infinitos?

Essas informações são fundamentais para o bom andamento dos meus posts.

Ou não?

Anywayz, a única nuvem escura no meu céu de brigadeiro é a ausência de visitas originadas daqui.

Será que vai chover?


quarta-feira, fevereiro 11, 2004

E então eu fui até ali ver o que a Television Lady estava fazendo.

Como a gente nunca volta de lá com neurônios abanando, achei que deveria postar o que descobri sobre mim:

storm
You are Storm!

You are very strong and very protective of those
you love. You are in tune with nature and are
very concerned with justice and humanity.
Unfortunately, certain apprehensions and fears
are very hard for you to overcome, and can
often inhibit you when most need to be strong.


Which X-Men character are you most like?
brought to you by Quizilla

Acho que da última vez que tentei eu era o Prof. Xavier, mas tudo bem.

No perfil dele a questão do medo tem o mesmo peso.

Coisa que escrevi uma madrugada dessas, subindo a 23 de Maio, debaixo da garoa

Pain and shame on me
On my head like crown and jewel
Humiliation, fear
Gobbled down, my richest fuel

If I act insane
When I see my name
Mouthed by your lips
It's all right
My desire's a flame
That'll not be spent
By no stranger's hips
Tonight

I am a creature of the night
As base as you want me to
Be/ but if you were by my side
I know that could make it through
The good and bad in me:
The things you've seen
Can never be denied
Only forgotten
In your arms

Hold me now and kill
The childish fears I nurse inside
Your coldest kiss could heal
This wounded heart of mine

So I let the rain
Wash my tears away
As I walk alone
And think of you
I can ascertain
If I fall again
Hell if I know
What I am to do

Without you

I am a creature of the night
As base as you want me to
Be/ but if you were by my side
I know that could make it through
The good and bad in me:
The things you've seen
Can never be denied
Only forgotten
In your arms


Coisa que eu escrevi aqui, ontem

Vomita em mim
Vomita
Que eu não sou merecedor
De frescor
E o óleo
Que você regurgitou
Pode cuspir que eu adoro
Exponha o seu conteúdo sem constrangimento...

(usando o ritmo de um pagode antigo)

Não, eu não tinha dicionário na internação. Não de inglês, pelo menos.

Coisas que escrevi durante a internação - II

Way below my feet
I sit
And observe
Everything I feel
Just fits
Like I deserve

The skies so gray above
They seem to glare at you and me
Holding up the rain
So as not to bless what's not to be

Through smoked glass
I watch
And reflect
Upon my inner mess
Crushed down
Like an insect

And the clouded skies above
They seem to think of you and me
Holding up our fate
So we can't guess what's meant to be

I wish we were
Meant to be
I wish your love
Poured down on me

Coisas que escrevi durante a internação - I

I make'em laugh
I am the clown
I let them hurt me
Here and now

Cuz it's funnier when you bleed
They get in stitches when you bleed

I say the joke
The face's straight
I make them feel it
All my pain

Cuz it's funnier when you bleed
They get in stitches when you bleed

The way they choke when they're full of glee
Is the most beautiful thing to see


Tenho fugido de posts do tipo "querido diário", mas hoje talvez seja impossível.

É fundamental que eu não interrompa minha personificação de pessoa animada e feliz (ou ao menos minimamente equilibrada), aqui em meu local de trabalho, mas hoje, assim como na semana passada, existir está fox.

Me impressiona o tanto que as pessoas acreditam em qualquer coisa, menos no óbvio. Eu aprendi já há muito tempo que o melhor lugar para esconder o que quer que seja é às vistas de todos. É espantoso o quanto isso funciona, infalivelmente.

Tem uns braços aqui que eu queria em volta de mim, mas isso não significa que eu tenha tomado qualquer posição interna com relação ao que foi minha noite de ontem, e a manhã de ontem, e um pouco da tarde de ontem. Pessoas. As pessoas. As pessoas ficam.

As pessoas ficam entrando e saindo de minha vida como se eu pudesse vê-la (à minha vida) em sua totalidade desde agora, como fazem os mortos (segundo dizem), e não tivesse que viver um agoniante dia após o outro. Como é que eu vou saber se elas retornarão, ou o que significam??

Elas retornarão? O que significam?

Eu finjo há meses que não estou absolutamente sozinho, aqui ou por aí. Desde que voltei eu finjo que parou de doer, que não vai mais explodir, que está tudo bem e que eu acredito. Eu acredito? Acredito? Acredito. Há meses eu finjo isso, pra dizer o mínimo, a tal ponto que até eu mesmo acredito nisso ou naquilo, e tudo tem sido como deveria ser. Todos estão gostando de ver: a chefe, o coordenador, a amiga.

Tem uns braços aqui. Braços queridos. Sorriso querido e olhos queridos, que sorriem também quando olham pra mim. Tudo parece ser tão simples, tão simples, mas eu sei melhor que a boca fechada quais são as palavras não ditas e finjo que não é nada disso, que não acredito, que me reconheço alheio e externo ao calor possível desses braços (e sorriso e olhos) queridos, que me contento com os limites de nosso convívio. Finjo até que não sei que sou querido, quem sabe até pelas mãos. Mãos que poderiam fazer cafuné na minha cabeça enquanto meu mundo desaba mais um pouco.

Mas eu sei, eu sei, I know way the fuck better: agora é o momento perfeito para continuar em silêncio:

-- Psiu.

E daí que então eu sou a encarnação perfeita daquilo que todos estão gostando de ver, ou talvez daquilo que não estão, de fato, vendo.

Será que ninguém está, de fato, vendo?

Então, como eu ia dizendo, eu acabei de deletar um longo post que estava entalado aqui há dias, sobre bêbados e barro e domingos.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Pois é: existir, hoje, está fox.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Do que texto que dormiu aqui essa madrugada (escrevo isto às 6h41 da manhã de quarta-feira), não sobrou muito.

Aliás, não sobrou nada: vetei-o, ainda que, desta vez, não por ser desnecessário e frívolo, mas por ter mais do extremo oposto destas características do que estou pronto pra lidar em público.

Do que se tratava? Digamos apenas que os bons entendedores encontrarão, nas duas letras traduzidas abaixo, sua meia-palavra.




Mama Said
Metallica (Load, 1996)

Minha mãe, ela me ensinou bem
Me disse quando eu era jovem
"Filho, sua vida é um livro aberto,
Não vá fechá-la antes do fim"
"A chama mais brilhante é a que se apaga mais rápido"
Foi o que a ouvi dizer
O coração de um filho é semeado pela mãe
Mas eu devo encontrar meu caminho

Rebelde, atente para seu sobrenome
Sangue selvagem em minhas veias
Eles trazem cordas ao meu pescoço
A marca que ainda permanece
Saí de casa em idade tenra
Do que ouvi, estava errado
Eu nunca perdi perdão
Mais o que disse que faria, está feito

Deixe meu coração partir
Deixe seu filho crescer
Mão, deixe meu coração partir
Permita que meu coração se aquiete

Nunca pedi nada a você
E nunca (nada) eu dei
Mas você me deu o seu vazio,
Que eu levarei para o túmulo
Então deixe este coração em paz

Mãe, eu estou voltando pra casa
E não sou nada do que você desejou pra mim
O amor de uma mãe por seu filho
Expresso, me ajuda a existir
Eu tomei seu amor como garantido
E você não falou nada
Eu precisava dos seus braços para me receber
Mas uma pedra fria é tudo que eu vejo

Deixe meu coração partir
Deixe seu filho crescer
Mão, deixe meu coração partir
Permita que meu coração se aquiete

Nunca pedi nada a você
E nunca (nada) eu dei
Mas você me deu o seu vazio,
Que eu levarei para o túmulo
Nunca pedi nada a você
E nunca (nada) eu dei
Mas você me deu o seu vazio,
Que eu levarei para o túmulo

Então deixe este coração encontrar sua paz







Tourniquet
Evanescence (Fallen, 2001)

Eu tentei acabar com a dor, mas apenas trouxe mais dela.
Caído à beira da morte eu estou jorrando rubra traição e arrependimento.
Estou morrendo sangrando e gritando.
Estou perdido demais para ser salvo?
Estou perdido demais?

Meu D-us, meu torniquete, devolva-me a salvação.
Meu D-us, meu torniquete, devolva-me a salvação.

Você se lembra de mim, perdido por tanto tempo?
Você estará do outro lado, ou se esquecerá de mim?
Estou morrendo sangrando e gritando.
Estou perdido demais para ser salvo?
Estou perdido demais?

Meu D-us, meu torniquete, devolva-me a salvação.
Meu D-us, meu torniquete, devolva-me a salvação.

Minhas feridas clamam pelo túmulo, minha alma clama pela libertação.
Serei negado, Cristo?
Torniquete.
Meu suicídio.


A R., também, ainda e como na maioria das vezes:


Eu te afastei? Eu sei o que você vai dizer; você vai dizer, ah, cante uma que a gente conheça.

Eu te prometo o seguinte: eu sempre tomarei conta de você. Isso é o que eu farei.

Eu digo: ah.

Eu digo: ah.

Meu coração é seu. É a você que eu me apego. É isso que eu faço.

Eu sei que estava errado, não vou te decepcionar (oh sim oh sim oh sim sim eu vou eu vou).

Eu digo: ah.

Eu grito: ah.

E eu vi faíscas. Sim, eu vi faíscas.

Canto-as.

Onde se ganha o pão


O ano era 1983.

Porciúncula olhou para o colega de trabalho e salivou, como vinha fazendo já há algum tempo. Gercílio era a cereja de seu bolo de sonhos, príncipe encantado que era ele mesmo o cavalo branco (segundo algumas amigas).

Escondida atrás de sua máquina de escrever elétrica da IBM, seus dias eram, dentro de sua mente, parágrafos intermináveis de Sabrina, Júlia e Bianca. Muitas vezes utilizava-se de absorventes íntimos para outros fins, pois que excitava-se muito facilmente e suas vontades marcavam calças, bancos de ônibus, sua cadeira giratória com altos apoios. Uma vez chegou mesmo ao orgasmo em pleno escritório, tão intensas as imagens que via em sua tela mental. Disfarçou fingindo um espirro, depois outro, seguido de uma leve afetação de enxaqueca.

Anos teriam-se passado em frustração e noites mal-dormidas, não fosse aquela terça-feira quentíssima de verão. Não havia ar em lugar nenhum dentro do prédio, e o apertado almoxarifado geral não era exceção. Entre caixas e armários, quinze funcionários compartilhavam um calor -- não necessariamente humano -- que há muito ultrapassara a marca do excessivo. Leôncia não se conteve:

-- Que foi de tão ruim que eu fiz nessa vida que vim parar no inferno e nem percebi?

Outros emendaram em um coro que continuou por longos minutos, até que alguém percebeu que Porciúncula não havia emitido ruído.

-- Só você mesmo que parece estar gostando, Porcí. Porcí? Tá me ouvindo?

Não, ela não estava. Na verdade, ela havia morrido sufocada dois minutos antes. Logicamente, atribuíram seu falecimento aos problemas de pressão decorrentes do calor crudelíssimo (inspetores mediram quase 43 graus naquele malfadado canto), mas o que ninguém jamais soube foi que ela morreu de amor: o que lhe sufocou foi a milésima tentativa de engolir em seco o que sentia; o que lhe entupiu as vias respiratórias foi um suspiro que formaria o nome do amado, tivesse ela tido alguma chance de dizê-lo.

-- Ô Gercílio, acho que essa mulher gostava de você.

-- Por que cês tão dizendo isso? Vixe! Tribufu monstruoso da peste. Que D-us a tenha, se é que São Pedro deixou entrar no céu um troço desses, tão feio.

-- É sério, cara. Acharam o diário dela, e você era o tema número um de cada linha.

-- Cruz, credo.

-- E ela escreveu que vocês ficavam sempre se olhando.

-- Larga d’eu, chulé.

-- Sei não.

E até o fim, que veio dois meses depois, numa noite de chuva, em um estranho acidente de carro, Gercílio seguiu negando seu interesse pela mulher solitária mas inteligente e bem-apessoada que havia sido sua companheira de trabalho por quase três anos.

Somente duas décadas depois os filhos de sua irmã encontrariam um pequeno bilhete dentro de um livro velho, perdido entre objetos esquecidos no porão da casa. Mas, sem o auxílio da mãe, então já falecida ela mesma, não poderiam saber que a data era a da morte de Porciúncula, ou que aquilo que borrava a letra tremida em alguns pontos eram lágrimas, ou que a enigmática combinação de palavras significaria, para um bom entendedor, que ele havia morrido de medo. Desde o começo. Mas eles não saberiam de nada disso, e fariam piadas sobre a nota suicida antes de jogá-la fora e vender o livro a um sebo, esquecendo depois por completo o assunto.

De um jeito ou de outro, seus corpos hoje repousam lado ao lado, já que Porciúncula havia pesquisado e comprado um jazigo contíguo ao da família de Gercílio. Alguns góticos que pernoitam no local juram ouvir, de quando em quando, nos arredores da lápide, um longo e sentido suspiro, mas quem se importa com o que dizem pessoas que andam o tempo todo de preto, nesses dias?


Por Luis Lagarto
http://noas.blogspot.com

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Nas verdade, desde o 26º dia do 1º mês do ano em que a Independência do Brasil distará de sua proclamação exatos 183.960 dias, tudo que eu penso em postar me soa frívolo e desnecessário.

Há muita coisa acontecendo, e ao mesmo tempo não há nada acontecendo. Faço descobertas importantes, mas descubro, concomitantemente, que elas não me movem senão milímetros em uma direção que não faço idéia qual seja, quanto mais se é a que eu realmente desejo tomar.

Tenho buscado contatar pessoas, muitas pessoas diferentes, talvez em busca de alguma coisa ou palavra que me dê uma luz. Amigos novos e antigos, deste e de outros continentes, com os quais estou em débito e em crédito (há um ou outro). Escrevo cartas (em papel mesmo), para aqueles cujo endereço físico eu ainda possuo. É muito diferente, creio que muito mais pessoal e considerate, escrever cartas e pôr no correio.

Tenho enrolado para pôr as tais cartas no correio, admito. Mas é porque minha cabeça anda totalmente confusa, quanto mais pelas manhãs, que é quando tenho -- supostamente -- tempo livre. Acordar pela manhã é um pesadelo.

Noves fora, não sei o que postar e muito menos o que não postar. Ando com muita vontade de escrever em inglês, mas isso seria contraproducente: americanos lá lêem blogs? Alguns lêem, pude comprovar isso, mas não sei... Talvez seja condenável, esse meu interesse em ser lido. Discussão frívola, o destino de um texto, se é o ego do autor ou os olhos/mente/coração de quem lê.

Tenho conseguido, pelo menos, atingir um estágio em que pouco ou quase nada do que sinto se exterioriza. Tanto que minha chefe hoje me felicitou por estar aparentando paz e harmonia, em contraste com tempos recentes. Fico feliz que ela pense assim.

Eu preciso para de querer que alguém se importe com o que realmente me vai por dentro.

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