<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, dezembro 30, 2003

A melhor coisa a respeito da reforma ao final do corredor é que deixa de existir às minhas costas o interminável desfile de funcionários em direção ao cartão de ponto.

Nem vou entrar em detalhes com relação às muitas vulnerabilidades da minha posição: energética, pessoal, reputacional (se me permitem o neologismo). Já basta dizer que pelo menos por ora posso sossegar da neurose, pois eu sei que somente meus vizinhos de andar poderão (caso queiram, sei lá) acompanhar minhas atividades on-line, o que não deixa de ser um conforto ainda que pelo simples fato deles já estarem – relativamente – acostumados com a minha “excentricidade”.




Eu poderia, continuando, discorrer sobre as vantagens de ser uma pessoa reputadamente excêntrica: a liberdade que há nisso, as possibilidades que se abrem. Mais ainda, eu poderia descortinar observações que não seriam de todo convenientes (é mais próprio o silêncio).

De um jeito ou de outro, são as desvantagens que pesam ligeiramente mais. Digo “ligeiramente” porque são quase sempre elas que transparecem em pequenos (f)atos, como por exemplo o ocorrido ontem à noite, quando eu conversava na entrada do estacionamento com um amigo de muitos anos, filho pródigo como eu, também retornado à empresa depois de um período navegando outros mares.

Eu estava levemente surtado, admito, por uma série de motivos, mas isso não vem ao caso, são assuntos para o outro blog que eu estou pensando em abrir (Falando Francamente com Luis Abrão??). O que importa é que agora eu sou um surtado com visão de longo alcance: finalmente, depois de muitos séculos, arranjei uns óculos novos pra eliminar os 2 graus de miopia que estavam obliterando minha vida social.

As pessoas nunca acreditam, mas eu perdi a conta de micos pagos por conta de não enxergar direito (não foi à toa que os micos-leões dourados saíram do grupo de risco de extinção). Foram incontáveis cumprimentos ao vento e um sem-número de pessoas deixadas no vácuo porque eu simplesmente não sabia para onde estavam olhando. A gota d’água foi a minha PCA Nº1, que um dia desses veio em minha direção me olhando (acho) e quis me cumprimentar (acho), mas eu, em absoluto pânico visual-emotivo, baixei os olhos, e passei em silêncio (por dentro quase morrendo). Essa doeu.

Mas ao fato, que eu me perdi em devaneios. Eu conversava com meu amigo e uma pessoa que trabalha no meu andar passou. Essa pessoa passou, parou, apertou a mão do meu amigo, trocando uma ou duas palavras, e seguiu em frente. Não, não sejamos injustos: uns dois metros mais à frente, quem sabe sentindo de alguma forma que talvez pudesse haver mais alguém ali, voltou-se, e, como que só então me descobrindo, me cumprimentou com um leve aceno.

Somando lógica ao disposto no parágrafo logo anterior ao acima, eu preciso concluir que devo ter feito algo que justifique esse tipo de tratamento, ainda que inadvertidamente. Eu poderia até pensar numa ocasião em particular, mas, ah... é muito triste. O pior é que isso não chega nem a ser inédito: minha PCA 01 passou a me ignorar também, situação que me tem custado massa cinzenta para resolver.

Vai ver, essa invisibilidade social, essa eterna inadequação que me põe desconfortável em qualquer lugar quase o tempo todo (acho que sou uma presença meio incômoda), seja o custo de me descobrir, aos 30 anos de idade, ainda portador da síndrome de Raskolnikov.

Às vezes não é fácil ser ridículo:


Eu vou cantar até dormir
Uma canção da mais negra das horas
Segredos que eu não posso guardar
Dentro do dia
Oscilando do alto para o (pro)fundo
Extremos de doçura e amargor
Espero que D-us exista
Espero, rezo

Arrastada pela correnteza submersa
Minha vida está fora de controle
Eu acredito que esta onda vá suportar meu peso
Então deixo fluir

Oh, sente-se
Sente-se junto a mim
Sente-se, sente-se, sente-se, sente-se
Em solidariedade

Agora eu estou aliviado por ouvir
Que você já esteve em lugares muito distantes
É difícil continuar
Quando você se sente absolutamente sozinho
Agora eu oscilei para baixo de novo
Está pior do que antes
Se eu não tivesse vislumbrado a plenitude
Eu poderia seguir em frente vazio

Oh, sente-se
Sente-se junto a mim
Sente-se, sente-se, sente-se, sente-se
Em solidariedade

Aqueles que sentem o hálito da tristeza
Sentem-se junto a mim
Aqueles que se acham tocados pela loucura
Sentem-se junto a mim
Aqueles que se consideram ridículos
Sentem-se junto a mim

Amem, no medo, no ódio, em prantos

Oh, sente-se
Sente-se junto a mim
Sente-se, sente-se, sente-se, sente-se
Em solidariedade



Isso foi James, banda de um hit só (Sit Down), direto de um tempo em que eu ainda podia mentir pra mim mesmo e chamar isso de idealismo.

Esse tempo que termina aos 25...

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Quando aquela voz na sua cabeça te avisar de alguma coisa, ouça.

Eu acabei de gastar R$25,00 num fone de ouvido que não tem metade da qualidade do meu velho fone de R$12,00.

E lá se foi meu Ano Novo no Rio.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Entendam.

E, agora sim, meu segundo presente de Natal from Heaven (o primeiro foi descobrir que a matéria de capa da Scientific American Brasil deste mês é sobre "A Teoria das Cordas e as 11 Dimensões do Espaço-Tempo" -- tesones): na minha rádio preferida, People Are Strange.

Quem sabe é o Cristo, tentando demonstrar amizade falando comigo na minha própria língua.

Maybe He remembers my name, after all.

Happy Birthday aí em cima.


E a véspera de Natal deve ser passada assim: a porta do quarto fechada, o inevitável Coldplay no último, no ar a vaga hipótese de assistir à Missa do Galo no Mosteiro de São Bento.

Mais tarde, abri a porta, por força das circunstâncias, e botei Metallica meio sem querer, mas é o que tá tocando desde as onze e pouco.

Falei com várias pessoas ao longo do dia e fiquei emocionalmente desgastado. Não pelo fato de terem sido conversas ruins; é que interagir com as pessoas me deixa assim, nestes tempos. Requer algum esforço, pela minha falta de compreensão das leis desta Terra paralela em que vim me enfiar.

Minha mente não se fixa em muita coisa, fico tonto quando tenho que fazer coisas simples como cortar uma fatia de queijo Minas para colocar no pão; parece que tenho que entender o queijo, a faca e a relação entre eles. O continuum espaço-temporal que os separa parece intransponível, inalterável. Eu me apoiei na mesa e fiquei por quase um minuto com os olhos fechados enquanto a voz da minha avó ia de zero a cem quilômetros de distância em 7,4 segundos.

Meu jantar foi chá preto com sanduíche de queijo -- dupla que reeditarei daqui a pouco a título de ceia. Parece dramático, posto assim, mas não é. À uma da manhã, na Warner, vai passar The O.C.

Parafraseando o Capital Inicial dos bons e velhos tempos:

Papai bebeu, mamãe morreu
Não estou sozinho
Mas não tenho ninguém

Esta vida me maltrata
Estou virando cabeça fraca

As minhas roupas, tão engraçadas
Sou um headbanger
De meia-pataca

Esta vida me maltrata
Não me sinto útil pra nada

Quero soltar bombas no meu quarto
Eu não uso nada, mas vivo chapado
Vêm chegando a meia-noite e um tipo de solidão
Que só conhece quem nunca foi ou não sabe se é cristão

Papai bebeu, mamãe morreu
Não estou sozinho
Mas não tenho ninguém

Esta vida me maltrata
Mas talvez (eu) não ligue pra nada


E deve ser meia-noite, agora, e nas casas de famílias cristãs (como a maioria das famílias brasileiras) as pessoas devem estar reunidas em círculos de oração,dirigindo-se a Jesus, a quem, dependendo da crença, verão como Vértice visível da Santíssima Trindade.

Meus vizinhos, católicos, entoam “Noite Feliz”. Eu tiro “Shoot Me Again” do pause.

No Mosteiro de São Bento, onde eu deveria estar, a Missa do Galo deve estar em pleno andamento: no ano passado, quando fui parar na Catedral da Sé, a celebração foi bastante tocante. Mas eu era outro, então, e sentia algo por Cristo além da mera asserção de Sua existência (porque eu acredito que Ele exista).

Não há mais ninguém na minha casa, todos foram para onde deveriam ir.

Tudo está como deveria ser, e talvez eu deva tomar um porre de vinho barato antes de dormir.

All the shots
All the shots
All the shots I take I spit back at you
All the shit you fake comes back to haunt you
All the shots I take – what difference did I make?
All the shots I take I spit back at you


Feliz Natal pra todos.




Então, quando eu ia postar, começou a tocar na Brasil uma versão interessantinha de um clássico de Joni Mitchell, musa da virada da década de 1970: Big Yellow Taxi.

Não parece que é sempre assim,
Que você não sabe o que tem até que perde?


Bonito recado de Natal enviado lá de cima, não? Enche o coração de fé e esperança.

Viver é perder amargamente e para sempre, para aprender. Qual será a lição, desta vez?

Tá mó frio aqui, eu vou pôr uma blusa ou me enrolar no cobertor.

Aí eu desliguei o telefone de novo, e era outra amiga (enquanto escrevo isso, sensação total de deja vu, quase a ponto de dar tontura pela sobre posição de momentos).

Parece que eu não vou parar tão cedo de enfiar os pés pelas mãos.

Caramba: quem sou eu, afinal? Parece que o mundo inteiro mudou, mas eu não – de repente, tudo o que eu fazia, pensava, acreditava ou dizia, não serve mais, não pode mais ser. Tudo termina em engano, e por vezes não sou eu o único a sair machucado; por vezes meus desatinos resultam na mágoa ou nos sentimentos feridos de outros.

De fato, é como se a porta de saída do HC tivesse me conduzido a um universo paralelo, onde tudo parece igual – mas apenas parece. Talvez eu não tenha percebido a seriedade do estigma que eu carrego como ex-interno da ala de psiquiatria: “tá vendo esse cara de preto? Ficou internado três semanas. Cuidado quando falar com ele; vai que ele surta, sabe D-us o que ele pode fazer!”

Ainda não sei muito bem como lidar com isso, preso que estou aos meus usos e costumes de outrora. Bem dizem que você deve tomar cuidado com o que deseja: eu quis tanto ser levado a sério que agora levam ao pé da letra qualquer coisa que eu diga ou faça. Esvaziou-se, ainda que aos olhos dos incautos mais do que daqueles que realmente me conhecem, minha ironia. Minhas tentativas de ajuste a esses novos parâmetros é que constituem a nata de minha mais recente safra de little social disasters.

Mas banter (difícil traduzir isso, hein? É um tipo menos refinado, mais direto, de humor, algo como “troça”) é uma coisa que esta aí, e que, se é o que a audiência exige, deve ser praticada, né não?

Ou então, fuck the audience, e a vida resume-se ao refrão (ou à letra toda) de St. Anger.


Aí eu desliguei o telefone e comecei a escrever. It was pretty much what I did the other time, so long ago. Ou nem tanto tempo assim, uns dois ou três meses, eu acho. Eu estava no trabalho, surtadão, a duas semanas da internação.

Ela é amiga da pessoa que eu considero uma das três grandes "revelações", digamos assim, da minha vida. Eu até poderia usar a palavra "amor", mas sei lá. Eu sei o que é amor, por incrível que pareça, e aquela foi a última vez que eu senti algo do tipo: naquela manhã de olhos mais azuis que o céu azul.

Lógico, há a so-called "protomusa", ser que eu acho que amo, de certa forma, e que torna a cada dia um pouco mais doloroso trabalhar onde trabalho... mas eu não devo me estender nessa questão, sob pena de incorrer em sadismo explícito com a curiosidade de amigas de trabalho que vez por outra me lêem.

Então, a amiga com quem eu falava. É engraçado como a gente dá um valor enorme a algumas pessoas embora se tenha com elas pouco ou quase nenhum contato.

Essa garota é assim, interessante e boa. Gostaria de conhecê-la muito melhor, e de ter sua amizade em que pesem os outros (nada desagradáveis) vÍ­nculos. Se toda vez que falo com ela me sinto inseguro quanto à sua "aprovação" da minha pessoa ou mesmo simpatia mais acentuada, devo confiar no que ela disse sobre conhecer freaks ainda piores, e esperar que ela separe o muito joio do pouco trigo em mim.

Há algum trigo em mim.

E esses outros vínculos, por sinal, como token de boa-vontade, eu assumo publicamente o compromisso de aposentá-los, ou ao menos relegar ao último plano, doravante, eis que marcas de um passado bom, mas por bem ou por mal, ido.

A realidade é uma coisa que está aí.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Trabalhando e errando loucamente, tempo mesmo só resta pra sofrer por um amor que subsiste apesar de despropositado e vazio de objeto (acho):


T(r)emor

Então eu olho na sua direção, mas você não presta a menor atenção em mim, presta?
E eu sei que você não me ouve porque você disse que eu sou transparente, não disse?

E o tempo todo, do momento em que acordo ao momento em que vou dormir
Eu estarei ao seu lado – tente me impedir, se puder
Ficarei esperando na fila só pra ver se você se importa

Você queria que eu mudasse? Bem, eu mudei de vez
E eu quero que você saiba que as coisas serão sempre do seu jeito
Eu quero que você diga: não t(r)ema.
Cante alto e claro:
Eu estarei sempre esperando por você

Então você sabe o quanto eu preciso de você, mas você nem sequer me vê, vê?
E será esta a minha última chance de conseguir?...

E o tempo todo, do momento em que acordo ao momento em que vou dormir
Eu estarei ao seu lado – tente me impedir, se puder
Ficarei esperando na fila só pra ver se você se importa

Você queria que eu mudasse? Bem, eu mudei de vez
E eu quero que você saiba que as coisas serão sempre do seu jeito
Eu quero que você diga: não t(r)ema. Não t(r)ema.
Cante alto e claro:
Eu estarei sempre esperando por você

Sim, eu estarei sempre esperando por você
Sim, eu estarei sempre esperando por você
Sim, eu estarei sempre esperando por você
Por você
Eu estarei sempre esperando

E é você que eu vejo, mas você não me vê
E é você que eu ouço oh em tão alto e bom som
Eu canto alto e claro
E eu estarei sempre esperando por você

Então eu olho na sua direção, mas você não presta a menor atenção em mim,
Então você sabe o quanto eu preciso de você, mas você nem sequer me vê



Na verdade, a pessoa por quem no fundo eu espero há um ano, nove meses e quinze dias, me ama, mas ainda não sabe disso.

Quando ela se aproxima eu t(r)emo, todos os dias.


(Coldplay: Shiver, in: Parachutes. Versão minha mesmo.)

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?


Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência? Quanto zombarás de nós ainda esse teu atrevimento? Onde vai dar tua desenfreada insolência? É possível que nenhum abalo te façam nem as sentinelas noturnas de Paladino, nem as vigias da cidade, nem o temor do povo, nem a uniformidade de todos os bens, nem este seguríssimo lugar no Senado, nem a presença e semblante dos que aqui estão? Não pressentes manifestos teus conselhos? Não vês a todos inteirados da tua já reprimida conjuração? Julgas que algum de nós ignora o que obraste na noite próxima e na antecedente, onde estiveste, a quem convocaste, que resolução tomaste?

Oh tempos! Oh costumes! Percebe estas coisas o Senado, o cônsul as vê e ainda assim vive semelhante homem! Que digo, vive? Antes vem ao Senado, é participante do conselho público, assinala e designa com os olhos, para a morte, a cada um de nós. E nós, homens de valor, nos parece ter satisfeito a República, evitando as suas armas e a sua insolência. Muito tempo há, Catilina, que tu devias ser morto por ordem do cônsul, e cair sobre ti a ruína que há tanto maquinas contra nós.

(...)

Portanto, Catilina, que podes mais esperar, se nem a noite com as suas trevas pode encobrir teus iníquos congressos, nem a casa mais retirada conter com suas paredes a voz da tua conjuração? Se tudo se faz manifesto, se tudo sai a público? Crê-me o que te digo: muda de projeto, esquece-te de mortandades e incêndios; por qualquer parte te haveremos às moas. Todos teus desígnios são para nós mais claros que a luz, o que bem é reconheças comigo. Não te lembras do que eu disse no Senado em 21 de outubro, que Mânlio, ministro e sócio das tuas maldades, havia de estar armado em certo dia, o qual dia havia de ser o 26 de outubro? Escapou-me, pois, Catilina, uma coisa só tão horrível, mas nem ainda o dia? Eu mesmo disse que tu deputaras o dia 28 de outubro para mortandade dos nobres; e então foi quando muitas das pessoas principais da cidade fugiram de Roma, não tanto por se salvarem, como por atalharem teus intentos. Poderás porventura negar-me que naquele próprio dia, por estares rodeado de minhas guardas e das minhas diligências, te não pudeste mover contra a República, quando, retirando-se os mais disseste que te contentavas com a minha morte? E quando esperavas tomar Preneste por assalto de noite ao primeiro de novembro, não achaste aquela colônia municionada por minha ordem, e com meus presídios, guardas e sentinelas? Nada obras, nada maquinas, nada cogitas que eu não só não ouça, mas veja e penetre claramente.


Catilinárias
Cícero
(trecho)

terça-feira, dezembro 09, 2003

E aí eu imprimi a história do zumbi e mostrei pra minha colega de trabalho, que me perguntou:

-- Se ele não sabe tocar guitarra, porque é que ele estava segurando o ônibus?

E eu ainda tentei responder.

Juro que escrevi o e-mail antes de ler sobre o zumbi.

Juro que pensei que essas coisas só acontecessem comigo.

Eu ia postar minha tradução pra The Celebration of the Lizard, mas é muito comprida.

É que ele teria completado 60 anos ontem.


segunda-feira, dezembro 08, 2003

Na cesta de Natal da minha empresa não vem panetone, mas vem salame.

SALAME.

Bom, pelo menos uma cesta de natal, que vem numa mochila muito da fashion, inclusive.

Não que seja de todo surpreendente, mas volta e meia as coias que me acontecem se traduzem em singelas canções -- a trilha sonora da minha vida.

Veja-se a última quinta, em que minha cara-metade reduziu a Crise Existencial Com Declarações de Quase Amor que eu estava atravessando à There Is A Light That Never Goes Out, dos Smiths:

Leve me pra sair esta noite
Leve-me a qualquer lugar, eu não me importo,
Não me importo, não me importo
Andando no seu carro
Eu jamais vou querer voltar pra casa
Porque não tenho mais casa
Oh, eu não tenho...


Ou a sexta à noite, quando depois de um dia inteiro remoendo as reações alheias adversas à minha Crise, exatamente quando eu me percebi perdido em vários sentidos (sentimental, religioso etc.), tocou na Brasil 2000 Numb, do Portishead:

Incapaz, tão perdido,
Não consigo encontrar meu caminho
Ando procurando, mas nunca vi
Um desvio do engano

(Porque) a criança de quem as rosas gostam
Tentou me revelar o que eu poderia sentir
Mas eu não consigo me entender mais:
Eu ainda estou me sentindo sozinho
Me sentindo tão profano
Porque a criança de quem as rosas gostam
Tentou me revelar o que eu poderia sentir
E essa solidão,
Simplesmente não quer me deixar em paz (ou sozinho, traduzindo ao pé da letra).


Até aí, beleza, são duas clássicas, eu me senti bem na foto.

Eu só não contava, ao descer do ônibus depois de mais de duas horas e meia de jornada, com o chatinho Rogério Flausino (eu até tenho alguma simpatia pelo cara e pela banda, mas ele canta de um jeito que não combina muito com o som, num certo exagero interpretativo) tomando de assalto minhas divagações sobre o futuro do meu relacionamento e fazendo com que eu me identificasse com cada palavra da (vide adjetivos acima) Amor Maior.

Estou vivendo um momento J. Quest. Por Júpiter!, será este o fim do mundo como o conhecemos?

Quero um amor maior que eu.

Em apenas 56 minutos de trabalho eu já consegui:

1) Virar a cara (por vergonha, e involuntariamente) para a minha Pessoa Como Assim Nº1.

2) "Ignorar" (por vergonha, e involuntariamente) uns cinco ou seis colegas de trabalho de outros departamentos, que me acham louco e/ou metido.

3) Aumentar em pelo menos sete reais minha conta na lanchonete.

4) Ficar com sono. Mesmo depois de café e chocolate.

Tem chão até as dez e meia da noite.

PS: Minha PCA01 engordou, hein? Tá do jeito que eu gosto hehe.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Num papel que eu já não sei mais onde achei:


O urso e os viajantes
(Fábula de Esopo)

Dois viajantes encontraram um urso na estrada. O primeiro subiu na árvore e se escondeu. O outro, apavorado, resolveu se jogar no chão e se fingir de morto. O animal chegou perto, cheirou as orelhas dele e foi embora. (Dizem que um urso não mexe com quem está morto.) O que estava na árvore desceu e perguntou ao companheiro o que é que o urso tinha cochichado.

- Ele me disse para não viajar mais com quem abandona os amigos na hora do perigo.


Um amigo, Pedro S., fez um comment no blog da Lan assinando como Menino Experimental.

E não é que acabei de descobrir que meu amigo foi escrito por um cara chamado Murilo Mendes (que deve ser bem mais que "um cara", já que a Federal de Juiz de Fora mantém um Centro de Estudos Murilo Mendes)?

Eis como se vê Pedrinho:


MENINO EXPERIMENTAL

O menino experimental come as nádegas da avó e atira os ossos ao cachorro.

O menino experimental futuro inquisidor devora o livro e soletra o serrote.

O menino experimental não anda nas nuvens. Sabe escolher seus objetos. Adora a corda, o revólver, a tesoura, o martelo, o serrote, a torquês. Dança com eles. Conversa-os.

O menino experimental ateia fogo ao santuário para testar a competência dos bombeiros.

O menino experimental, declarando superado o manual de 1962, corrige o professor de fenomenologia.

O menino experimental confessa-se ateu e à-toa.

O menino experimental é desmamado no primeiro dia. Despreza Rômulo e Remo.

Acha a loba uma galinha. No tempo do oco pré-natal gritava: “Champagne, mamãe! Depressa!”

O menino experimental decreta a alienação de Aristóteles. Expulsa-o da sua zona, só com a roupa do corpo e amordaçado.

O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos chamando-a de bisavó.

O menino experimental escondendo os pincéis do pintor e trancando-o no vaso sanitário, obriga-o a fundar a pop art, única saída do impasse.

O menino experimental ensina a Vamp a amar. Dorme com o radar debaixo da cama.

O menino experimental, dos animais só admite o tigre e o piloto do bombardeio. Deixa o cão mesmo feroz e o piloto civil às pulgas.

O menino experimental benze o relâmpago.

O menino experimental antefilma o acontecimento agressivo, o Apocalipse, fato do dia.

O menino experimental festeja seu terceiro aniversário convidando Jean Genet e Sofia Loren para jantar. Espetados na mesa três punhais acesos.

O menino experimental despede a televisão, “brinquedo para analfabetos, surdos, mudos, doentes, antinietzsches, padres, podres, croulants”.

O menino experimental atira uma granada em forma de falo na mãe de Cristóvão Colombo, sepultado nas Américas.

(Murilo Mendes)



Ah, se eu ainda fosse menino, quereria ser experimental também!

(suspiro)

O link é este, para quem quiser ler o mesmo texto em letras vermelhas com o espaço sideral de fundo.

Aí você vê lá na página de resultados do Yahoo!BR, "Síndrome de Raslkolnikov", artigo escrito por um diretor de teatro/dramaturgo, e fica todo entusiasmado, achando que o autor vai examinar Rodya a fundo e traçar vários paralelos importantes entre a obra e, quem sabe, toda uma classe de pessoas sofrendo dos mesmos sintomas que ele.

Aí você clica, e fica naquela expectativa: será que eu tenho essa síndrome? Se eu tiver, significa que eu sou alguém? Se não tiver, valho algo mesmo assim?

Aí a tela abre, os lugares-comuns se multiplicam (ainda que não se possa desconsiderar integralmente o ponto de vista do autor só por isso), e você nem se dá ao trabalho de ler linha por linha, desapontado.

Mas aí, então, você clica em índice, e a tarde torna-se, all of a sudden, muito interessante.

Ecoando o que eu havia escrito em um post anterior, tem alguns parágrafos muito interessantes nesse link sobre o T[I]NC, banda citada no post logo abaixo. Os grifos são meus.

"Preferências políticas e musicais os colocaram lado a lado para juntos, tentarem algo novo. Não “exatamente novo” no sentido de “criar algo novo” ou serem “inovadores”, mas para usarem suas experiências musicais e influências em novos contextos."

"o THE [INTERNATIONAL] NOISE CONSPIRACY não faz parte do gênero típico de banda de rock ou música pop que se vê por aí. O THE [INTERNATIONAL] NOISE CONSPIRACY é uma banda política, sem ambições de ser politicamente correta ou manter suas idéias presas ao underground. São sim, um grupo que usa a mídia e a indústria da música - que eles mesmos odeiam - para transmitir sua mensagem. Alguns críticos podem falar que a banda apenas vende uma imagem de descontentamento e rebeldia, que eles estão apenas saqueando os arquivos do rock e da história da música pop para criar uma música cativante e oportunista sobre a revolução. Nada poderia ser ou estar mais errado, pois o THE [INTERNATIONAL] NOISE CONSPIRACY é tão real ou irreal quanto qualquer outra coisa poderia ser. Esta banda não se encaixa em nenhum parâmetro ou gênero que faça o rock atual ser tão estéreo (sic) e fácil de ser definido inocentemente. Esta banda não pertence a nenhuma cena. Eles se sentem confortáveis ou, tão inconfortáveis, em squats crust ou na MTV."

Eles e muitos outros.

Você abre o Yahoo e está lá: Check out what's new and on sale in our weekly ad, logo abaixo do indefectível logo vermelho.

Lógico, traduzo: Dê uma olhada nas novidades à venda em nossa propaganda semanal. Ou ainda: esqueça sua busca por um momento e clique aqui para conhecer o que você não vai ter dinheiro pra comprar tão cedo.

Será que já estamos nesse nível de dependência consumista?

(Trilha sonora soriginal deste post: Capitalism Stole My Virginity, do The International Noise Conspiracy.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

(Censurado -- mas é preciso que se saiba que HAVIA ALGO AQUI.)



Na volta eu vim pensando assim:

“Ah, as coisas que eu adoro nos outros, mas não gosto em mim.”

Eu fui ao hipermercado francês comprar vento e/ou tempo. Se consegui um pouco do primeiro, com relação ao último me dei bem mal, em que pesem meus pretensamente espertos subterfúgios.

Na barrachurrasquinha do cameloso eu tentei estabelecer um diálogo:

-- Suco, tem só de laranja?

-- Não, isso é iogurte.

-- Mas e a garrafa do lado, meu senhor?

-- É de suco.

Que estava, por sinal, deliciosamente beirando o azedo, ou como quer que se defina aquele gosto único que tem suco de laranja passada.

Um pouco antes da ponte Jaguaré eu vi D-us me espiando por detrás das nuvens. Ele contemplava o trânsito, eu quis divinar, mas na verdade acho que estava mais interessado em Osasco, ali nas proximidades do Shopping Continental. Eu tentei atravessar a rua, quase morri, dois caminhoneiros emparelhados comunicaram-se brevemente por meio de suas buzinas, mas muito mais importante foi o tremor que causou sua passagem. Quando eu finalmente cheguei do outro lado, D-us percebeu que eu O havia visto, e fez chover um pouquinho, selecionando em Sua onisciência tanto meu calor quanto meu assombro com a magnificência de Sua manifestação.

O suco acabou, e eu guardei a garrafa no saquinho, mesmo estando literalmente sobre o Rio Pinheiros.

Um tiozinho, sim, e não D-us, observava o trânsito por detrás de um muro. Se ele fosse criança, pensaria que ninguém o estava vendo, de onde estava, mas eu estava por cima de tudo, e via tudo. Mas ele não fez nada demais. Comportou-se bem e olhou tudo quietinho.

Os PM’s, que pareciam não ter se movido desde que eu passei ali no caminho de ida, também se comportaram e me olharam quietinhos, talvez tentando ler na distância o que estava escrito na minha camiseta (verde, com garrafais letras brancas): GO VEGETARIAN. No mato entre as duas mãos da avenida, eu parecia outro letreiro: proibido tráfego de bicicletas, retorno na próxima saída à direta, vire vegetariano.

Quando eu passei pelo posto eu já tinha falado com o Edinael, e eu já tinha pego a chave do banheiro com um tiozinho que pensou que eu não saberia a quem devolver depois, e já a tinha entregue para um segundo tiozinho que sorriu inappropriately knowingly, ou seja, com uma malícia deslocada e absurda, como se ele tivesse me surpreendido em alguma ação inapropriada mas inocente (eu estava murmurando na salinha com assento, pia e espelho um pouco pelo lixo espalhado, outro tanto por causa do papel toalha que se recusava a sair do porta-papéis. Eu não queria sair à rua com o rosto e mãos molhados. Só isso).

Mas isso já tinha tudo acontecido, àquele momento eu já estava voltando, e então passei quase sem olhar pelo posto, na verdade nem pensei em nada disso. Do outro lado da rua eu vi belíssimas pernas -- belíssimas -- e as segui até perto do botequim.

A nem dois passos para além da guarita (que ficou muito irritante com tantos guardas novos, para mim que estava mal começando a aprender o nome dos outros), Lógica e Decência, que tinha acabado de levar um sermão do Respeito Ao Nariz Dos Outros, me aguardavam, severas, e me conduziram em um silêncio até um canto do estacionamento onde eu comecei a ler o epílogo de Crime e Castigo. Não quis comentar com elas que não acreditava muito que minha camiseta secaria e eu ficaria menos nojento, menos desagradável de se estar por perto, menos indigno, menos o que quer que seja.

O fluxo de idéias, sentimentos e pessoas, porém, me levou em pouco mais de duas páginas para um ambiente de estudo improvisado num canto deste prédio infinito. Minha chefe passou por ali e sorriu, talvez ciente de que eu não deveria ter hoje horário de jantar.

Apesar dela (ora, bolas) eu não me movi, e li minha vida até o fim. Eu precisava ter certeza de que eu sou, mesmo, Rodion Romanovitch Raskolnikov. Eu precisava ter certeza disso. Muito.

Precisava, mas, ainda assim, tudo o que eu posso dizer ter conseguido descobrir foi que, se a razão me leva a crer que Dostoiévski não é D-us, ele chegou muito, mas muito perto disso, ah, ele chegou.

Eu tenho pena de você, minha doce Sonia. Eu quero te fazer feliz, mas tudo o que eu entendo é de sentir e causar sofrimento.

Por outro lado, talvez eu te subestime um tanto, não?

Enquanto cumpro as tarefas que me cabem da maneira que esperam que eu as cumpra, ouço a boa e velha compilação do já quase falecido ritmo electroclash chamada American Gigolo, que tem entre seus astros principais o DJ Tiga, com um remix de Sunglasses At Night.

Nele, uma voz robotizada diz que "usa seus óculos escuros à noite" por uma série de motivos.

O fato curioso é que um personagem de uma série ou filme hype que eu vi ultimamente, um homem dentro de um carro conversando com outro sobre os bons e velhos tempos, disse que se emocionava toda vez que ouvia essa música por um determinado evento que aconteceu nos idos anos 80, com essa canção como original soundtrack.

Acho que foi no Six Feet Under. Só pode ter sido. Onde mais há vida indiscutivelmente inteligente na televisão?

Mas eu falava sobre electro. Eu queria, com muito atraso, comentar um programa da MTV especial sobre o assunto, mas o tempo urge. Importa dizer que algo de extremamente interessante acontece na música neste final de 2003. Muito interessante mesmo.

O mais pitoresco é que não parece haver nenhum Cobain para catalisar o processo, e talvez nisso mesmo resida toda a peculiaridade do acontecimento. Ao invés de um rosto significativo, apenas uma apropriação generalizada do fazer artístico (ou musical, no caso), desnorteando completamente a crítica e invalidando rótulo atrás de rótulo.

É um momento esteticamente desconfortável e tenso, tanto mais pelo óbvio esgotamento de praticamente todas as formas e fórmulas conhecidas de expressão (musical, insisto). O acesso fácil e indistinto a raridades e novidades, bem como a possibilidade de re-criação imediata de praticamente todo tipo de som, faz com que tudo pareça já ter sido feito outra e outra vez. Mas isso é obviamente impossível, este estado "final" da alma humana, é ululante que esse deja-vu generalizado é um estado momentâneo, e chances há que seja dessa tensão entre obviedades e desconhecidos que vá eclodir o novo estado de coisas.

A saída estará na descoberta de um novo instrumento, ou de novos instrumentos, ou ainda estará nas mãos daqueles que insistem em repensar as maneiras de utilizar/relacionar-se com as tecnologias e instrumentos já existentes.

Quem quiser experimentar o que eu estou tentando dizer deve juntar-se a mim numa rápida homenagem à incomparácel Lisa (de blogo novo, agora), que me apresentou o Matmos, de quem eu recomendo ouvir atentamente Spondee .

A mente humana é tão subutilizada que, ao se perceber diante de possibilidades ilimitadas pra valer, se bloqueia, e foge em desabalada carreira rumo ao líquido e certo. Em curtos e grossos termos, é isso que eu acho que tem acontecido com a expressão artística de um modo em geral.

Daí Kings of Leon, Stripes/Hives/Vines, electroclash, St. Anger e Me Against The Music, entre tantos outros fenômenos. Eles são os passageiros de um Titanic navegando em direção a um iceberg criativo em cuja ponta eu poderia dizer que a Björk e o System of a Down, entre muitos, muitos outros, habitam.

O que me intriga mesmo é o que está por debaixo da superfície.

Não me engano com o calor aparentemente um pouco mais suportável que o de ontem - especialmente aqui neste cubículo com pouca ventilação.

A água na garrafa tinha gosto de enxaguatório bucal do almoço de ontem e estava, além de tudo, quente.

Enxaguatório bucal alheio, de alguém que come carne com excesso de tempero.

Ao chegar no estômago, ela pesou como minha consciência.

Ainda assim eu não jogaria pimenta nos olhos dos outros, inação que faz de mim um Rodion Romanovitch pior ainda que a imagem que ele fazia de si mesmo.


É feio dizer que eu notei ter sido limado da lista de links de uma pessoa que eu acho por diversos motivos muito interessante?

Eu nunca sei o que essas atitudes (que nem sempre são, acredito, conscientes) significam.

Ou pior: muitas vezes elas não são mesmo conscientes e eu capto plenamente o que elas significam.

Bem-vindos ao mundo de Marlboro.

Que coisa, este blog virou O Outro!

E agora? Adeus, televisão?

Continuando com as musiquinhas:


Algumas vezes seria melhor estar morto: há uma arma em sua mão, apontada para sua cabeça, e você acha que está louco, instável demais, chutando cadeiras e derrubando mesas em um restaurante da Zona Oeste: “chamem a polícia, há um louco à solta!, correndo, correndo para o submundo, para um bar de má reputação na Zona Oeste da cidade”.

Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste. Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste.

Garotas da Zona Oeste.

Sombras demais, vozes sussurrantes: “se?, quando?, por quê?, o quê?, quanto você conseguiu?” “Você conseguiu o que queria, e, se conseguiu, com que freqüência?” “Qual você escolheu, a opção difícil ou a fácil?”

(De quanto você precisa?)

Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste. Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste.

Garotas da Zona Oeste.

Você tem um coração de vidro ou um coração de pedra? Vai esperando até que eu te leve pra casa. Você não tem futuro, e não tem passado, está aqui hoje supostamente pra durar, em toda cidade e em toda nação, do lago Gênova à estação Finlândia. (Até onde você já foi?)

Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste. Na Zona Oeste, um mundo sem saída, garotos da Zona Leste e garotas da Zona Oeste.

Garotas da Zona Oeste.


É muito interessante a experiência de gritar com a alma.

Gritar, não: urrar, até você sentir que seja lá o que for que constitua a essência do que você é enrouqueça, ou enlouqueça, dá na mesma.

Eu comecei ontem, quando saía do trabalho, pouco antes das nove. Caminhei pela rua escura e cheia de carros, passei pelo boteco fechado, pelos trailers de churrasquinho de gato, pelos portões da garagem e por todas as pessoas que estavam ali pelos mais diversos motivos, e era muito engraçado que eles não pudessem ouvir coisa alguma.

Eu gritei muito, muitíssimo, com várias vozes que não eram necessariamente as minhas. Depois de alguns minutos fazendo isso sem parar, passei a pensar em gritos (tipo gritando as frases na minha cabeça).

E eu continuo gritando, neste momento mesmo, por exemplo, e as pessoas todas continuam não percebendo.

É muito interessante.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Me desculpem, mas, se eu quiser ser minimamente honesto, eu preciso postar isso de novo. A interpretação (desnecessário dizer) é livre.


Vamos, minha estrela está se apagando, e eu vou de um lado pro outro fora de controle. Se eu, se eu tivesse pelo menos esperado, eu não estaria preso neste buraco.

Venha cá, minha estrela está se apagando, e eu vou de um lado pro outro fora de controle, e eu juro que esperei e esperei... eu tenho que sair desse buraco.

Mas o tempo está do seu lado, está do seu lado, agora. Não está te empurrando pra baixo nem pra todos os lados. Não é motivo de preocupação.

Vamos, minha estrela está se apagando, e eu não vejo chance de alívio. Eu sei que estou morto na superfície, mas estou gritando (aqui) por baixo.

Mas o tempo está do seu lado, está do seu lado, agora. Não está te empurrando pra baixo, nem pra todos os lados... não é motivo de preocupação.

Preso à esta bola (de ferro) pela ponta de uma corrente, eu estou à caminho do fundo de novo. Parei na beirada, amarrado a um nó, com enjôo no estômago. Você pode dizer o que quiser que não vai mudar coisa alguma -- estou de saco cheio dos segredos. Parei na beirada, amarrado a um nó, mas aí você chegou e cortou a corda.

Mas aí você chegou e cortou a corda.

Você chegou


e cortou



a corda.



Grato pela compreensão, ou falta de; whatever.

terça-feira, dezembro 02, 2003

E aí me deram trabalho, e a Lisa se cansou de escrever (assim como o Augusto), e há uma boa hora eu só penso em sair pra comer, e a resenha da série The Matrix que eu vinha matutando há tempos eu acabei escrevendo em inglês e estou com preguiça de escrever de novo pra postar aqui, e eu tenho tomado tanta água por tantos motivos que eu só faço me sentir mais e mais inchado, e eu estou no momento sentindo minha barriga como algo além, muito além do meu próprio corpo, e essa música do Coldplay que eu tô ouvindo também fala de aranhas, e o que será que eles têm com esse bicho, e a tarde não passa, não passa, não passa, e uma pessoa que eu gostaria que estivesse aqui não está.

E eu estou com muita raiva de algumas coisas (ou de muitas), e há dias não falo com alguns amigos por estar tudo muito corrido, e eu vi hoje um lugar interessante pra morar (apesar de ser bastante próximo do lugar onde trabalho, o que é sempre um perigo), e as pessoas não chegam a um acordo quanto à festa de amigo secreto da qual eu não estou nem participando, e eu disse "oi" para uma pessoa com que em eu não falava há tempos, e isso foi bom, e hoje é aniversário do Sr. Meu Pai.

E dia seis rola algo de que não me lembro.

E dia treze são muitos os compromissos.

Eu vim pelo caminho hoje pensando em pernas compridas.

E eu não vou poder viajar no final do ano para Bertioga, mas também o que eu faria lá, naquele lugar que conseguem fazer apertado de tanta gente que enfiam?

E aí puseram uma árvore de natal no vidro da recepção, e não puseram nem um menorazinho, e pouco antes das três chegou o pinheiro (este, de verdade e da altura das janelas).

E aí eu não fiz, nem estou fazendo, nada do que deveria (a pessoa de quem eu sentia falta chegou).

E aí eu não sei se estou sentindo o que deveria (chances há que eu esteja confundindo tudo).

Mas essa música, faixa 5, ah, essa eu conheço, e é impossível não pensar no nome e rosto certos: olhe para as estrelas, veja como elas brilham por você e tudo que você faz, e elas são todas amarelas. Eu cheguei, e escrevi uma canção pra você e pra tudo que você faz, e ela se chama "Amarelo". Então, eu fui na minha vez, oh, o que o destino fez, e tudo era amarelo.

Sua pele, oh, sim, sua pele e ossos transformam-se em algo belo. Você sabia que eu te amava tanto?

Você sabia que eu te amava tanto?

Nem eu sabia, pelo motivo mais simples.

Parachutes.

This page is powered by Blogger. All your base are belong to us.