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quarta-feira, novembro 26, 2003

Tinha uma letra do Coldplay neste post: Amsterdam.

Traduzida, e tal.

Quem leu, leu.

(Este espaço vai para o mais sincero post já escrito para este blog em português, mas que não pode ser publicado sob risco de exposição excessiva e indevida de tudo aquilo que de fato alicerça a alma do autor.)

Ouça quem tiver olhos de ouvir.


Eu estou pensando seriamente em converter-me ao judaísmo.

Eu nunca me senti tão desconectado de Cristo ou tão incapaz de seguir-Lhe os princípios.

Eu associo o judaísmo à segurança e à vitalidade de uma raiz inabalável, à imponência de um tronco de madeira nobre e firme, e à proteção de uma copa vasta e verdejante, em que os galhos somam sua força na sustentação dos muitos frutos (e basta abrir um livro de história, de física, ou entrar em uma livraria, ou prestar atenção nos créditos de qualquer – e eu reforço: qualquer – produto cinematográfico, televisivo ou fonográfico, para saber que frutos são esses).

Judeu, talvez eu sentisse D-us muito mais real e presente em minha vida, e talvez assim eu me sentisse alguém ou, principalmente, parte de algo. Mas quem sabe o que são uma e outra coisa, anyway?

Eu tentei entrar para um grupo de discussão on-line sobre judaísmo e fui rejeitado, primeiro total e depois mais delicadamente.

Se eu me convertesse, talvez o valor que mais me tem falado alto ao coração ultimamente – pertencer – não estaria ao meu alcance.

Pelo meu atual conjunto de crenças e valores espirituais, eu pedi para ser negro antes de nascer por um motivo muito justo: para que minhas relações com o mundo se baseassem em desconfiança e medo, e também para ter acesso restrito a toda instância social onde em porventura depositasse anseios ou esperanças – e não me refiro meramente à posição financeira.

Extrapolando questões de etnia, eu pedi para viver desconectado de tudo e para ter à mão tão-somente aquilo que me faça infeliz, e para não entender em absoluto quaisquer possibilidades em contrário, de forma que eu possa falhar nelas todas miseravelmente.

Eu falho em tudo que tento de positivo.

Eu pedi para viver 84 anos morto; quando eu penso em morrer na verdade tudo o que desejo é nascer de novo. Mas ai de mim se D-us me ouve, eu que sou ingrato e duas vezes criminoso: aos que têm, mais lhes será acrescentado; aos que não têm, ainda mais lhes será tirado e eu sei que não tenho, daí meu medo desse D-us que por amor me abraça com espinhos.

As pessoas, sobre cuja obstinação em assenhorear-se de meus pensamentos e impressões postei ainda há pouco, têm apresentado quase a mesma veemência e sutileza ao me oferecer balas em momentos estúpidos.

Imagino que deve ser uma experiência muito desagradável conversar comigo a menos de oito metros de distância, o que não deixa de ser uma constatação bastante humilhante e extremamente danosa para a auto-estima de qualquer um.

Observo e especulo: existe halitose congênita? Será que no meu caso é só sinusite ou eu já fiquei mesmo paranóico? Eu não consigo mais ficar à vontade para conversar com ninguém a menos de oito metros de distância, o que me tem minado a auto-confiança até no namoro.

De um jeito ou de outro, tenho achado muito interessante, mais uma vez sem ser irônico, quando essas mesmas pessoas tão docemente solícitas bafejam sem o menor constrangimento em minha direção: it all begins and ends in inappropriate instances of self-consciousness, it seems.

Para se ter uma idéia: este mouse faz da tarefa de selecionar as palavras para pôr em itálico, negrito ou mesmo colocar link, uma batalha perdida.

São 3h45, agora que posto tudo que escrevi há pouco. Não tomei comprimido e talvez por isso eu não esteja com o **menor** sono. Acho que cabe um rolê de bike até o Extra Brigadeiro, seção de Informática, onde espero que um mouse custe menos que os treze reais que o moleque da papelaria quis me cobrar outro dia.

Mas aí, como acontece toda vez que eu penso em me colocar em movimento para algum fim útil, me invade uma onda de torpor, e eu acho que nada vale a pena...

...além de comer, é claro.

Hoje minha avó fez bolo.

Com o pulso doendo por causa de uma possível tendinite, eu realmente olhei para a bolinha embaixo do meu mouse, pensei intensamente “ah, pára, vai” e por um instante esperei algum tipo de resposta. Esperei mesmo.

Isso é ridículo. A hora de comprar outro já passou faz muito, o investimento é pífio, se comparado ao benefício, mas eu geralmente antes que perceba enfio meu salário pelo primeiro orifício disponível.

Da face, é bom que se diga.

Nem era pra eu estar escrevendo tudo isto, e eu nem estaria se não fossem certas ironias do destino.

A não menos engraçada delas é o sono natural que eu estou sentindo, ao final de uma noite em que 1) renovei meu estoque de Zolpidem e 2) vou ter que ficar acordado pelo menos até as 3h15. Ainda são 1h27, de acordo com meu rádio-relógio.

E dois mafiosíssimos risoles de queijo depois, nem posso me dar ao luxo de passar esse meio-tempo comendo. Estou gordo, gordo.

PS: Os risoles estavam mafiosos, mas perfeitos, e me fizeram bem, assim como a conversa e o atendimento.

Talvez caiba dizer que essa provavelmente não é a única mensagem que eu estou com medo de ouvir.

Que coisa.

Nem quinze dias de namoro e eu já estou me escondendo?

Oh! Do que será que estou com medo?

Tem mensagens na minha secretária eletrônica, mas eu não quero ouvi-las.

Várias pequenas atitudes minhas ao longo do dia me fizeram perceber o quanto eu sou um péssimo amigo, ainda que meus amigos nem sempre percebam claramente isso (muitas vezes eu acho que percebem).

Primeiro, tesourei o amigo que falava de sua excelente colocação num processo seletivo, mesmo apesar de pouquíssimo tempo de estudo. Não encontrei meios de dizer a ele que eu nem me espantei muito pelo simples fato de ter como certa sua alta capacidade intelectual, que é notória. Eu poderia ter argumentado quanto à sua nota na redação expondo algumas possibilidades de ordem técnica, mas estava mais preocupado com algumas contas vencidas que eu havia decidido pagar naquela hora: eram 15h15, e eu sabia que não chegaria no banco a tempo. Não cheguei mesmo, aliás nem saí na próxima hora, então por que não continuar conversando? Não: eu desliguei o telefone e fui me iludir com meu “itinerário utilíssimo” para o dia.

Um pouco antes de sair, liguei para outra amiga, que ao me ouvir começou a chorar no telefone. Logicamente, desisti da visita que eu havia decidido fazer e me propus a encontrá-la, o que ela aceitou e, cinco minutos depois, alegando não ter certeza da hora que em resolveria sua situação, cancelou. Insisti, fiquei à disposição (não tenho celular, mas uso pager), mas acabei não ligando novamente como deveria – como talvez ela tenha esperado que eu fizesse. Eu tenho a mais absoluta certeza de que uma das mensagens que me aguarda por trás do led vermelho piscante é dela, e eu sei que vai doer ouvi-la. A dor da vergonha, da desonra.

Por fim, emprestando um caráter cíclico ao dia, a última mancada foi ter apressado a segunda cerveja de um outro amigo em nome do penúltimo capítulo da terceira temporada de Six Feet Under, que está passando todos os domingos na HBO (às 21h), com reprises às terças.

Neste domingo eu estava em Embu, finalmente acompanhando um show do Dance Of Days, algo que merece comentários bem mais detidos e profundos – vi o Ratos de Porão ao vivo pela primeira vez, também. O fato é que perdi de bom grado, naquele dia, minha série favorita, despreocupado por me fiar na certeza da reprise.

Hoje, porém, se perdesse, ficaria com um vácuo televisivo até mesmo prejudicial à minha saúde mental, já que essa série é muito mais que uma verdadeira terapia, é uma das principais alavanca de processos de amadurecimento.

Mas será que isso vale uma cerveja tomada às pressas? Enquanto eu vinha a passos largos do metrô, eu percebi o quanto a noite está perfeita justamente para ficar sentado numa mesa de bar, jogando conversa fora. Arrependi-me amargamente de minha correria (a conversa estava boa, apesar de ter me deixado triste por motivos outros), e fiquei me consolando com a expectativa do capítulo da série ser um daqueles muito coito, que realmente valem a pena.

Aí eu cheguei em casa, e descobri que a reprise só vai ao ar às 2h15 da manhã.

Eu sou um péssimo amigo.


À mesa de um barzinho, trocando idéias com o Fernando, lá pelas tantas eu amuei quando ele falava sobre os Beatles: eu nunca havia pensado para pensar sobre Help. Ou minto: eu já parei, e já cheguei até a brincar com a letra, mas até o momento não tinha tido noção da seriedade do sentimento cantado tão singelamente, tão de leve, como se a depressão que ele (McCartney) estava sentindo fosse brincadeira, algo que não devesse ser levado a sério.

Eu amuei, porque percebi que jamais eu teria a capacidade de fazer o mesmo, i. e., envelopar essas coisas que eu sinto em uma embalagem festiva qualquer. E, corro pra acrescentar antes que digam que não é isso que eu sinto, eu não teria capacidade de fazê-lo pelo simples motivo de que um amanhã tão ruim quanto o dia de hoje é basicamente um fato, para mim, pelas mais diversas razões.

Ah, tá, eu sei que é um círculo vicioso, e que quanto mais negativamente eu pensar, piores serão as energias e fatos que eu atrairei blá, blá, blá. E daí? Quem disse que eu sou capaz de ser feliz? De sentir algo bom? De estar bem comigo mesmo? Eu não sou capaz de nada disso, e numa interpretação plausível de muitos conceitos espíritas, a dor que eu sinto é a dor que eu mereço (se bem que eles diriam que é a que eu “preciso”).

É por isso que, se algum dia eu parecer genuinamente feliz, ou será porque eu decidi finalmente passar do exercício para ação, no tocante ao auto-extermínio, ou então porque alguma coisa absurdamente inconcebível para o meu atual momento terá acontecido dentro de mim e eu terei então verdadeiramente reencontrado Cristo ou pelo menos me vi sendo efetivamente capaz de fazer alguma coisa boa para alguém.

Prato cheio, essa declaração, para alguns, hein? Já aviso, a “reencontrar Jesus” da boca para fora (já repararam como a gente só se deixa enganar pelo discurso dos outros quando quer, ou quando precisa?), obrigado, mas prefiro continuar assim mesmo.

E antes que me acusem novamente de estar fazendo “tipo” – singelo rótulo que levou-me além do limite (são anos ouvindo isso), o que por sua vez levou-me às três semanas internado no IPQ, fato que não cheguei a mencionar diretamente aqui – ou mesmo de heresia, não, eu não estou sendo irônico ao referir-me a Cristo, e não, eu não brinco mais de suicídio.

Por sinal, eu cansei de brincar de muita coisa.


As pessoas continuam, obstinadamente, apontando-me o dedo na cara e achando-se donas da minha razão e sentimentos.

Eu me refiro às pessoas em geral, e não este ou aquela: elas olham para mim com um ar condescendente e plácido e me dizem – “você precisa disso, você precisa daquilo”. Pior, mais do que eu elas sabem o que eu sinto: “você não está x, está y”, e ponto. Não há espaço para discussão; se eu não percebo a obviedade do que estão dizendo, é porque eu sou um completo imbecil.

Talvez eu seja, afinal. Quem sou eu pra saber de mim?

O fato é que nada do que andam dizendo faz coisa alguma ficar menos péssima, nem resolve o que quer que seja.

D-us não admite críticas.

Nem mesmo vindo de seres tão ínfimos.

quinta-feira, novembro 20, 2003

Contagem regressiva antes da pequena morte, ou: esperando Morfeus.

10. A barata que uma amiga matou com os pés nus sempre me acompanha quando eu atravesso os corredores da minha casa no escuro, descalço.

9. “Se você estiver acordado, me dê um toque no celular que eu te ligo de volta”, bipou meu amigo (por sinal, namorado da garota citada acima) cujo número de celular eu nunca lembro.

8. Não terminei nada do que comecei hoje, o que faz deste dia um exemplo perfeito da totalidade da minha vida. Até deprimido eu estou – quão sintomático.

7. Tenho usado muito essa palavra: sintomático. Tá até num post aí debaixo.

6. “Debaixo” tem um som esquisitíssimo.

5. No site The Onion (A Cebola, em inglês) há uma reportagem intitulada Mom Finds Out About Blog, algo como “Mamãe Descobriu Meu Blog”, numa tradução livre. Se o título fosse World Finds Out About The Other Blog, eu a traduziria e postaria aqui, nem que pelo mero prazer do acinte.

4. Sinusite na mesma intensidade (?) que a minha pode não representar perigo nenhum pra saúde, mas é impressionante como ela pode implodir a sua já não mais que relativa auto-estima.

3. Curiosamente, segundos após ter lido no blog do Sparkazul sobre sangue e fezes, essas substâncias que tão bem exemplificam o interior do ser humano, eu mergulhei minha bolacha Chococo Festiva no chocolate quente de forma tão inepta que não deu outra -- ela se desfez no meio do caminho entre xícara e boca e deixou um rastro na camiseta Nautic Side antes branquinha e na velha bermuda Malwee de algodão listrado vinho e preto. Não foi de propósito, juro, mas mesmo se tivesse sido a ironia não seria menos intensa.

2. Estou conectado há dezenove minutos e usando apenas o Word. Aí, desconecto, que estou fazendo papel de besta. Na seqüência, percebo que já estou no penúltimo item e que em menos de cinco minutos terei que conectar de novo. Fiz isso muito hoje – ou ontem, que são agora exatamente meia-noite e oito. Este mês eu serei la chica de los ojos de la Telefónica de España.

Item-bônus: que singela a maneira como o Word 2000 muda automaticamente o corretor ortográfico quando a gente escreve em outra língua.

1. Acabei de engolir a seco a minha sleeping pill, o que siginifica que dentro de vinte ou trinta minutos eu não serei mais capaz de concatenar meus pensamentos. Se estou soando relativamente como uma pessoa em plena posse de suas faculdades mentais, é porque a leitura do blog preto ainda ecoa nos meus neurônios. Eu tenho muita vergonha de ser assim esponjoso, não sei se acontece com todos ou se essa é apenas mais uma prova de minha absurda falta de personalidade. Ontem, andando com a Sra. Minha Esposa pelo Centro, descobri que só me sinto eu mesmo quando estou vestido de headbanger, e não sosseguei enquanto não troquei a camisa preta da Kaos que eu usei pra parecer decente (estávamos, afinal, procurando apartamento) por uma do Metallica que eu tinha acabado de comprar meio que a propósito. Fazer propaganda do cd novo do System of a Down, ops, do Metallica – a estampa, na frente, é aquele punho fechado do Vulgar Display of Power, ops, do St. Anger – não me incomodou nem um pouco, já que eu gostei pra caramba dele (apesar das sérias ressalvas) e além disso tem ainda o fato de eu tê-lo ganhado de presente de um casal de amigos -- por sinal, os dois que abriram esta seqüência de itens.

0. E lá vem ele, o tal do sono, ou talvez seja apenas extensão da tontura que eu senti o dia inteiro. Que toda a confusão mental que me impediu de tomar uma só atitude coerente sequer o dia inteiro deva-se a perturbações de natureza espiritual é bastante plausível, já que faz só vinte e três minutos que encerrou-se a quinta-feira – dia de tratar do espírito. E lá vai ele, o tal do sono, e lá vem ele de novo. Na verdade, eu nunca sei de fato quando o comprimido começa a fazer efeito. Ou ainda: eu sei sim, mas só percebo quando é tarde demais. Ontem ele bateu quando eu tava com a barba cheia de tintura pra cabelo, e é graças ao meu incomensurável poder de decisão (resolvi tingir o bode depois das onze) que eu agora sou o orgulhoso dono de um coberto xadrez com uma belíssima mancha roxa no meio. Roxa, não: acaju púrpura, nas palavras da Koleston.

Ah...

Fui. Em sete horas, toda uma seqüência de filas e siglas me espera.


terça-feira, novembro 18, 2003

- É de tanto carregar minha consciência.

- É, uma hora eu vou ter que para de assaltar bancos.

- Pô, eu nunca pensei que dinheiro imaginário (que é o único que eu tenho) pudesse causar esse estrago todo!

Sei lá. Eu poderia ter respondido qualquer coisa, mas quando o sapateiro quis ser simpático e fez piadinha com o rombo no alto da minha mochila, dizendo que eu "teria que parar de carregar tanto dinheiro", tudo o que consegui fazer pra disfarçar a confusão mental foi gaguejar e balbuciar alguma estupidez, inadequada o bastante para ele ficar quieto e dizer, "hm, é. Então... você pode pegar ela (sic) amanhã?".

Posso, né; fazer o quê?

Pois é. Como agir, o que dizer... mistérios.

A verdade é que eu não ando entendendo muito bem o que as pessoas dizem.

Literalmente.

Surdez, apenas, ou foi-se de vez o que ainda restava de minha escassa capacidade de interação social?

Na padaria ficaram também me olhando de um jeito estranho.

Daí que Achilles's Last Stand eu já conhecia há muito tempo; desde 94, pra ser mais preciso, quando eu ganhei Presence de amigo secreto do Manzano.

Ele achou engraçado eu ter pedido esse disco, mas o fato é que eu estava ainda na minha fase platônica, e por amor havia recém-descoberto o Led Zeppelin.

Lógico que eu já tinha cansado de ouvir All Of My Love em programas de flashback, mas tirando essa e uma ou outra mais manjada, eu sou forçado a reconhecer que eu tive o dom de chegar aos 20 anos sem qualquer conhecimento mais profundo dessa banda tão absurdamente fundamental.

O amor, sim, o amor mudou tudo isso. Ah. No final daquele ano eu já estava no quinto c: I, II, III, IV e o No Quarter, que estava fresquinho na mídia, ainda. Presence foi o sexto, ou talvez sétimo porque eu não me lembro quando foi que comprei o In Through The Out Door.

(Naquela época que conseguia comprar cd com vale-alimentação numa grande rede de hipermercados de origem francesa, o que fez daquele um ano bastante rico. musicalmente.)

Anywayz - como era um presente, o cd veio com uma dedicatória no encarte que expressava bem o estranhamento do meu amigo:

"Espero que isto lhe sirva futuramente a nível de engrandecimento do seu ser."


Mal sabia ele (ou eu, for that matter) que um dia eu enfiaria na cabeça a idéia de virar baterista, ou que numa bela tarde quase nove anos depois eu estaria saindo do Centro Cultural e compraria, numa banca obscura, a última edicão de Batera & Percussão, atraído pela matéria de capa: 10 Grandes Viradas do Rock.

Sim, Achilles' Last Stand é a primeira da lista. John Bonham kicks ass, e se alguém quiser saber eu credito a ele a quase totalidade do que faz Kashmir a música mais perfeita que eu já ouvi em todas as minhas vidas.

A song to listen to on your knees, transfixed, with utmost devotion.

Músicas como essa, que eu ponho ao lado de grandes obras de outras artes como Crime e Castigo, que eu estou lendo no momento, ou O Quarto, do Van Gogh, me fazem acreditar um pouco na hipótese do ser humano se permitir tudo aquilo de que é capaz. Se por pouquíssimos outros motivos, vale a pena continuar vivo por isso.

"Engrandecimento do meu ser". Quem sabe?


PS: O "a nível" da dedicatória foi proposital, irônico, parte de um contexto, desde já afirmo a nível de esclarecimento.

PPS: É sintomática a contemporaneidade de Van Gogh e Dostoiévski. Na verdade, se não fosse por Einstein, Joyce e alguns outros, eu ficaria seriamente inclinado a acreditar que a humanidade havia se esgotado criativamente no final do século XIX ou quem sabe ali pela década de 1920, pra dormir sem sequer sonhar por 40 anos, revirar-se um pouquinho no leito por mais uns 20 e entreabrir as pestanas de leve com Kurt Cobain. De hoje, só daqui a uns 50 anos que eu vou saber.


Como será que é ser conciso?

I wonder.

O Igor Cavalera nunca saberá o mal que me fez.

Foi muito duro competir contra ele, nos idos de 1997/8, época em que ele fazia brilhar um certo par de olhos que eu queria que brilhassem para todo o sempre só por mim (ah, que eu podia fazer??). Era no mínimo irritante ter que ficar ouvindo o quanto o cara era isso ou aquilo -- eu me sentia mesmo em desvantagem, tonto, eu, tão inseguro em meu primeiro relacionamento pra valer.

Ainda assim eu conseguia suportar sua existência, já que era tempo de Roots e eu achava o Sepultura de longe a melhor banda nacional então em atividade – never mind their lyrics were all (or mostly) in English, that was a mere trifle. Eu pagava um pau pro som deles.

Porém, como se as tais roots de repente já não importassem tanto, os dois irmãos brigaram, por pouco ou muito, dependendo do ponto de vista, e cada um seguiu seu caminho.

O Soulfly, por mais que me doa dizer isso, estacionou no tempo. Tem raízes a dar com pau, mas pouco ou nada que valha a pena acima da superfície, acredito eu, que não ouvi ainda o álbum mais novo e nem estou curiosíssimo para fazê-lo. Pode ser que mude de idéia em algum outro momento, who knows, mas, por ora... não sei.

Quanto ao Sepultura, esta virou pra mim, por muito tempo, uma banda com um som indeciso e impessoal. Citando o Augusto, “se alguém quiser me acusar de heresia”, fique avonts, mas IMHO os primeiros sons com o tal Derrick eram absolutamente estranhos, frios e destituídos de qualquer personalidade.

Lógico que eu me bandeei pro lado do Max. Como é que eu apoiaria aquele cara que me havia tornado o namoro menos doce? Ainda mais agora que o som dele não tme tocava mais? Fui lá e comprei o primeiro cd do Soulfly assim que foi lançado, e o fiz com a convicção de um confederado que municiasse seu canhão em guerra com os ianques -- those sons of guns. Rascals.

E a picuinha teria permanecido assim, com não mais que leves alterações (eu quero aprender bateria e russo, e o cara além de ser uma referência inevitável, musicalmente, ainda por cima chama-se Igor), se eu não tivesse ouvido na Brasil, sem saber que era Sepultuira, a tal versão de Bullet the Blue Sky, originalmente do U2.

Gostei muito, admito.

Fim da "encrenca", portanto? Não sei. De um jeito ou de outro, não tenho mais a desculpa do namoro, que terminou mesmo em 98, e com essa audição inesperada Tio Igor e Brother Derrick torceram meu braço bem torcido.

Max Cavalera (nada contra os apreciadores do gênero, mas chamar o cara de Pagodeiro é muita crueldade) me “deve” excelentes argumentos.


segunda-feira, novembro 10, 2003

- Abracadabra!,

mas é claro que ninguém espirra assim. Foi um tipo qualquer de atísh.

Parecia mágica porque no mesmo instante dois perdigotos de considerável diãmetro se materializaram no piso de borracha meio gasto daquele trem da Linha Verde do Metrô. Eu não pude deixar de percebê-los, e ele não pode deixar de constrangir-se ao perceber que eu não pude deixar de perceber tudo (perdigoto e constrangimento subseqüente).

Eu quase ri.

Um pouco mais que quase eu ri segundos depois, quando na estação Brigadeiro a mocinha com uniforme de corretora de seguros enganchou o salto nas frestas da porta, logo ali onde o piso (no qual os perdigotos ainda refletiam a impessoalidade das lâmpadas fluorescentes do teto) começa.

Nervosa, ela fez como a Elis Regina do Fernando e domou o ridículo da situação pintando com seu sorriso quadros auto-jocosos de decúbito ventral perpendicular no espaço entre uma porta e outra. Eu tentei sorrir para ela, que falava alto com o amigo que, ele sim, parecia envergonhado pela situação. Ela baixou os olhos e eu a coluna, para pegar O Guardador de Rebanhos e ler alguma coisa de Alberto Caieiros.

Primeira vez que eu li Alberto Caieiros (1889-1915).

Foram suas imagens pastoris que me salvaram de ceder ao absurdo que parecia ter tomado o mundo externo às Paredes Verdinhas nos meus primeiros momentos como cidadão de vontade reconstituída.

Depois, com algum esforço, quase consegui fingir que não era nítida a sensação de continuidade, de não-limiar entre as cenas que eu presenciava e aquelas com as quais convivi nestas últimas três semanas -- que continuam, sem fim, aqui dentro.




Algo envelhecido (principalmente quando sorria), o homem no espelho tentou furtar-se à decadência que seria admitir-se resquício de uma canção velha do Marcos Jefferson e analisou-me detidamente, com uma intimidade que em outra situação teria me incomodado um pouco.

- Racca!, acho que ele quis me dizer em algum momento, mas tudo o que dele obtive foi um daqueles sorrisos esquisitos e uma concessão, qual seja admitir que eu não engordei tanto quanto estava sentindo que tinha.

Mas acho que isso foi só na manhã seguinte -- a seqüência dos eventos perdeu-se, já, o que é um pouco triste.

Não que eu fosse narrá-los todos, claro.

Estou de saco cheio de pessoas que acham minha dor divertida.




E aí o Teenage Fanclub regravou Like a Virgin, e toda vez que eu ouço eu acho legal.

E aí entrou um som muito interessante: Breeders, mas o nome da música eu não consegui ouvir (depois entrou Blunt of Judah: "O Paraíso dessa vez vem logo, como um lugar sem nome").

E aí que eu me afeiçoei muito ao Rubinho e à Paula Lima, e a uma outra locutora da noite que eu nunca consegui ouvir o nome. Na verdade, ao time inteiro, apesar de algumas -- poucas -- ressalvas ao Garagem.

E aí que a Brasil 2000 foi minha âncora em diversos momentos em que achei que a solidão me levaria para portos de onde eu não voltaria.

Ou foi minha bóia, em momentos que eu pensei que finalmente afundaria de vez em mim mesmo.

O que aconteceu, por uns dois ou três dias: síndromes.

Brasil 2000. O problema é que o hospital fica perto da Paulista, e era uma luta pra fixar a sintonia de vez em quando. Confesso que apelei para a rádio do patrão de vez em quando. Mas estou bem!, estou bem!, passou: meu rádio semi-novo pega a rádio quase perfeita (eles andam tocando a nova dos Titãs...) sem problemas.

...cara, tá tocando The Darkeness. That's weird.




Em resumo?

"I'm a driver, I'm a winner. Things are gonna change, I can feel it."

(Beck, em Loser, faixa de Mellow's Gold. Quem conhece, pode se divertir lembrando do que o refrão diz.)



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