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terça-feira, setembro 30, 2003

Hm, antes que me perguntem, não, eu não recebo comissão nem cachê.

E nem poderia, pela mais elementar das razões.

Que, logicamente, eu nem comento hehe.

Agora, MC5, Fufi Ayumi, Detroit Cobras e essa outra que tocou há pouco, eu não sei.

Fufi Ayumi é muito legal, assim como os Guitar Gangsters, que por sinal tocaram no Hangar 110 há umas duas semanas. Os caras são muito engraçados, tiraram vários baratos do Kid Vinil quando foram tocar nos estúdios da rádio.

Fufi = Seaguls Screaming Kiss Me Kiss Me?? Eu não sei... Os caras do Seagul parecem ter um leque sonoro muito mais amplo, mais dado a experimentalismos. O som do Fufi tem bastante influência de punk, pelo que me lembro (faz um tempinho que ouvi).

Molly's Chambers já tocou bastante, os Kings têm mais para mostrar além dessa -- que nem por tocar tanto (=uma vez cada seis horas) deixa de me fazer feliz.

Aí me veio à mente a do Idle Wild(acho que o nome é assim): I Am What I Am Not. Putz som. Muito bom mesmo. E os Raveonettes, que são interessantinhos, também. Mas o que é aquele gritinho do vocal dos Hives em Main Offender? Aquele 'why me' valeu meu ano, musicalmente.

Tá, não é pra tanto, mas é something else, diz que não.

Perdido? Não esquenta: segundo consta, dá pra mudar sua percepção do que anda rolando na música pela net, também. Sem contar ouvir sons diferentes daquelas bandas que todo mundo conhece.

E os sons nacionais que valem a pena. Ninguém mais toca Arnaldo Antunes fora dos Porcalistas. Ou Júpiter Maçã: Miss Lexotan 6mg (Garota). E qual é o nome da banda que toca Minha Voz, mesmo?

Não sei, mas recomendo.

A do Interpol? PDA.

Blunt of Judah, da Nação Zumbi, é uma música do caramba.

Mas tem uma que eu curto horrores cujo nome eu perdi, quando ela falou.

Aí ela disse: "...REM: Lotus. Aumenta aí."

segunda-feira, setembro 29, 2003

Trinta de setembro.

Primeiro de outubro.

Dois de outubro.

Quatro de outubro.

Nove de outubro.

Treze de outubro.

Dezesseis de outubro.

Dezenove de outubro.

Librian@s.


E depois que a gente escreve tudo, pensa: bah.

Bah.

Clocks também cria esse desespero, ainda que por meio de outros artifícios.

O nome não tem nada de gratuito, sendo que o "toque" (termos de leigo, não me julguem) do piano, desde os primeiros acordes, juntamente com a bateria e o piano, criem uma sensação de tic-tac agoniante, como o de uma bomba-relógio emocional eternamente prestes a explodir.

Numa atmosfera absurdamente tensa (a tensão oscila, chegando à beira de algo só para retrair-se de novo) para uma música que á primeira vista pode parecer "bonitinha", a bateria só dá a primeira virada de fato aos dois minutos e pouco, quando todos os instrumentos sobem de tom/intensidade ao mesmo tempo e o Chris Martin enfim admite que "nada mais se compara (à pessoa amada)".

Quer coisa mais falta-de-ar que a seqüência de you are (seis!) antes dessa falsa liberação?

youuuu aaaaaare

youuuu aaaaaare

youuuu aaaaaare

youuuu aaaaaare

(pianinho)

youuuu aaaaaare

youuuu aaaaaare

Vixe. Lá se vai um bom minuto e pouco. E nem mesmo o nothing else compares ajuda muito.

E eu disse falsa aí em cima porque depois o pianinho volta com o mesmo tic-tac, um pouco antes dos outros instrumentos voltarem também, com a diferença de que o baixo, agora, "canta" os versos finais que o Martin não tarda em repetir: home, home is where I wanted to go ("pra casa, pra casa, é pra onde eu gostaria de ir").

Home is where the heart is ("casa/lar é onde o coração está"), e a música conta com perfeição a impaciência dele pelo momento de -- finalmente -- chegar onde está o coração dele.

A bateria é fundamental, é o instrumento que mais remete aos clocks, que por definição manda no tempo da música. O que o Will Champion faz ao longo desses cinco minutos é maravilhoso. O baixo e o teclado que cria um fundo meio cavernoso, e a guitarra que se esconde por trás do baixo, tudo tem seu papel. Mas o batera... tava inspirado.

Eu preciso desesperadamente aprender a tocar assim.

E eu preciso desesperadamente aprender a tocar bateria.

É o tipo do desespero que só quem ouve Politik de surpresa, mas ainda assim atentamente, pode entender.

Experimente.

Experimen-te.

Experimen-te!

Eu odeio o sistema de pontuação do Blogger.

Trabalhar com sono é mais ou menos assim: você se arrasta até o seu escritório, fazendo o possí­vel para não bater o cartão com atraso. Procura não pensar porque em uma empresa com sei-lá-quantos mil clientes relativamente fixos e mais relativamente ainda, pagantes, além de uns 6 ou 7 mil funcionários, ainda insiste em cartão na chapeira (cléinng!) em pleno ano 2003.

Rumores há de marcação de ponto por leitura de impressão digital, mas sabe Deus. Aprende-se, infelizmente, com o passar dos anos, a desconfiar de certas notí­cias em princípio boas demais.

Passado esse primeiro momento, vem a atualização do noticiário interno. Involuntariamente ou não, fatos relevantes do ambiente em que você está inserido fatalmente lhe chegarão aos ouvidos. E aí­, você pode resolver de alguma forma os problemas surgidos? Talvez sim, mas num momento de hesitação -- ou logisticamente inapropriado -- a oportunidade de intervir positivamente se esvai, e você volta pro seu canto para assistir enquanto pessoas de longo conví­vio caem presas de influências talvez menos salutares.

Depois vem o momento do desconforto. O corpo reclama por estar ali, naquele momento, inventando dores e queixas como uma criança mimada. Oras, e onde esse corpo gostaria de estar? Na esbórnia? Enquanto brilha o sol, pouco espaço ou tempo há para a esbórnia. Suporta-se o desconforto, que em retaliação multiplica-se.

As noas passam-se como inseto verde na folhagem.

Duas horas e meia depois da entrada, tudo é pressão baixa, e o corpo uma geléia quente e modorrenta: as mãos, moles e absurdamente quentes, escorrem por sobre o mouse, que torna-se impossivelmente difí­cil de movimentar. As idéias baralham-se, prostram-se e jazem sufocadas pela incompetência do ar condicionado, que raramente chega até este canto, e espremidas pelas avassaladoras paredes de sons desconexos que vão se erguendo com o tom das muitas vozes.

É impossí­vel não lembrar da vez em que, aos 12 anos, eu tomei uns cinco ou seis comprimidos de Valium na esperança de dar um fim àquela vida (hahahahahahaha) sofrida.

Parece que o efeito nunca passou.



Se bem que teve uma outra pessoa buscando mandingas para sonhar com a pessoa amada, há umas duas semanas.

O string de busca que a pessoa construiu era bastante... exótico, lingüisticamente.

Er, alguém -- da Indonésia -- entrou aqui googlando "tempat perek bandung".

Como assim?

sexta-feira, setembro 26, 2003

Ah... minha vida não está valendo um post, hoje.

Então, tá, eu vou padecer alhures.



E aí, vagando a esmo net afora, cheguei a este artigo interessantíssimo sobre o ensino de dança em regiões de alta taxa de exclusão social.

Surpreendente mesmo: eu nunca havia parado para refletir no que o ensino dessa arte pode significar para as bailarinas.

Tough.

Pelo menos descobri o nome da outra música do The Jesus & Mary Chain que eu tenho adorado intensamente desde a revolução no set list da Brasil.

É Come On, e se você tiver oportunidade, ouça.

A outra deles que tem tocado, também maravilhosa, é Cracking Up. Bem como estou no momento: cracking the fuck up.

Outras recomendações, da mesma fonte:

- The Bees: Minha Menina (é, do Benjor. Tá fazendo um putz sucesso no UK. É muito engraçado o cara cantando em português.);
- Otto: Bob (maravilhosa);
- Teenage Fanclub: Hang On (muito interessante);
- John Wesley Harding: I'm Wrong About Everything (sem comentários: o título diz tudo. E, sim, fez parte da trilha de Alta Fidelidade.).

Por sinal, enquanto escrevo isso, está tocando Hole, com Celebrity Skin. Quem vai lá sabe o que isso quer dizer: a Brasil 2000 tá parecendo uma versão 24/7 d'A Lôca -- e em suas melhores noites.

Essa rádio tem sido a única coisa que faz valer meus dias, em muitos momentos.

Então, está passando tudo isso no cinema, em Sampa City.

Mas, logicamente, eu acabei de gastar R$ 27,00 com táxi apenas para chegar tão atrasado quanto eu chegaria se tivesse vindo de trem, como sempre, e provavelmente não terei como encaixar em meu orçamento, cultura.

Teria sido mais barato, e emocionalmente menos desgastante, faltar.

Ou simplesmente ter continuado a dormir, eternamente, até minha próxima vida.

quinta-feira, setembro 25, 2003

E o nome da música do Kings of Leon que me faz felicíssimo toda vez que a ouço é Molly's Chambers.

A palavra chambers, por sinal, me lembra um xará, velho amigo de trabalho. Bons tempos.

O Blogger tem um comportamento meio esfíngico, às vezes.

Já tinha ouvido falar disso, mas esse é o meu primeiro contado oficial com o assunto.

O texto abaixo foi retirado do site da agency5.group, uma empresa soteropolitana de design e tecnologia. O link, lá, é "novidades".

Reproduzo apenas para fazer um questionamento ao final.


Guaraná Jesus

Está em andamento a produção do primeiro site do Guaraná Jesus, o refrigerante que já faz parte da cultura do Maranhão.

Criado em 1920 pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes, o Guaraná caiu no gosto do povo maranhense graças ao seu peculiar sabor de cravo e canela adocicado e a sua surpreendente coloração cor-de-rosa.

Líder de vendas no estado, o Guaraná Jesus deverá atingir um público consumidor ainda maior com a implementação do site, já que este estará voltado para a comercialização do produto fora dos domínios maranhenses, tornando-o mais acessível para consumidores de todo o Brasil.

Inteiramente desenvolvido e atualizado pela Agency5.group, o site trará informações sobre eventos, promoções e a cultura do Maranhão, valorizando ainda mais a originalidade tão típica do Guaraná Jesus. Aguarde!



Meu questionamento? Simples: já pensou se a moda pega?

terça-feira, setembro 23, 2003

E eu diria pro Sparkazul: não tive opção a não ser inclui-lo.

E eu diria pro Fernando: sinto muito pelo Reginaldo. Mas ele deveria saber que quem vive pela espada, pela espada perecerá.

E eu perguntaria pra Lisa o que ela achou do meu semblante.

E eu não sei se seria absolutamente franco com a Sarcástica, ainda mais porque ela não daria a mínima.

E eu diria pro Augusto: Saturn Returnz, but you will survive.

E eu diria pra mim mesmo: seu idiota, você acha mesmo que alguém vai perceber que a cor do seu cavanhaque mudou?

É preciso que se diga, contudo, que para cada hora que uma pessoa passa não ouvindo a Brasil 2000, ah, o crescimento musical perdido é... incomensurável.

Só pra se ter uma idéia: no caminho pra cá, em pouco menos que uma hora, na seqüência, eu ouvi: Interpol, Júpiter Maçã, Blur, Os Incríveis, White Stripes, AC/DC, O Terço, Elvis Costelo, Morcheeba, Buffalo Tom e Chicks on Speed.

As linkadas foram coisas totalmente novas pra mim, tirando Os Incrí­veis, de quem eu já havia ouvido falar muito vagamente, e Júpiter Maçã, que é um dos musos do Fernando.

Das Chicks, que me foram apresentadas por minha musa manauara Lisa, eu finalmente consegui ouvir o nome da canção: Gimme Back My Man (sorriso irônico). Aproveite a bondade da Palomino, que disponibiliza esse som no seu site e veja por si mesmo/a se elas não têm poderes.

E, sim, o Wah Wah do Buffalo me pareceu muito o uala-uala do Augusto.

Dou o braço pros locutores torcerem: não há programação como essa em São Paulo, be it up or down the dial.

Pode procurar.

E nunca mais eu consegui postar nada.

Quéisso, idéia mais esquisita desse povo, que fica achando de me encher de serviço no meu horário de trabalho!

Mas tudo bem, no mais tardar amanhã à noite eu terei internet em casa de novo.

Navegar é preciso, dormir (e ter sonhos esquisití­ssimos) não é preciso.

sexta-feira, setembro 19, 2003

E lá vou eu ficar sem net até segunda à tarde.

Saco.

Poesia é uma forma de expressão que eu considero complicadíssima.

Onde há lugar na vida que a gente leva hoje em dia para contemplação e sutileza, para trabalhar significados e experiência e extrair da combinação desses elementos todos, o sublime, o transcendente, o real?

Que o real, ao contrário do que a lógica leva crer, deve ser profundamente belo, daí minha discordância dos que criticam a arte pela arte: talvez a vida só exista mesmo na torre de marfim, e todo o resto seja mera distorção.

Não que minha prática se espelhe nessa convicção: eu sou o primeiro a sair buscando sinais do cotidiano, do tangível, em qualquer forma de arte. Procuro mesmo, porque, se ele não estiver lá, como eu vou saber se o artista entendeu o que ele está fazendo?

E ele tem que entender? Qual é o mínimo denominador comum entre os entendimentos possíveis de um dado fenômeno?

Saiu na Scientific American desse mês: "o universo é um holograma?" Cito a página 44, nas três últimas frases do primeiro parágrafo, lá em cima: "Existem evidências de que o Universo que percebemos com três dimensões espaciais possa ser 'escrito' numa superfície bidimensional, como se fosse um holograma. Nossa percepção do Universo em três dimensões seria uma profunda ilusão ou simplesmente uma entre duas formas alternativas de enxergar a realidade. Um grão de areia pode não ser suficiente para conter nosso Universo, mas uma tela plana, sim."

Então, em um Universo onde o próprio conceito de realidade, e a possibilidade de apreendê-la em definitivo (ou em "consensual", mais apropriadamente) está em cheque, como equiparar subjetividades? O que existe além da subjetividade? Isso faz da arte um valor supremo, e da verdadeira poesia (em oposição à disposição de conjuntos de palavras desprovidos de multiplicidade nos níveis de leitura) a forma de expressão lingüística que mais se aproxima da estrutura última da realidade??

Einstein foi um grande poeta, a meu ver, e suas longas equações me arrepiam e fazem meus olhos marejarem. Não que eu tenha a capacidade de entendê-las em seus meandros matemáticos, mas o que elas implicam é maravilhoso. Quer algo mais poético que o Princípio da Incerteza de Heisenberg? Soneto mais bem-feito que o Gato de Schrödinger? Já chorei, e já tive meu coração descompassado e visão desfocada por alguns textos sobre física qüântica: leio a edição brasileira da Scientific American como quem saboreia uma taça de vinho de boa safra, ou um café tirado à perfeição. Tenho a firme convicção de que serão os físicos os primeiros cientistas a provar a existência de D`us.

Nisso, para mim, reside a essência da verdadeira poesia, nessa busca pela expressão perfeita do que está além. Sob este ponto de vista, a técnica importa muito menos que a percepção. Os parnasianos estão aí para comprovar. Não que se deva desconsiderá-la, não, em absoluto. Mas ela, por si só...

...não se realiza.

Pincelo minhas crenças dessa forma atabalhoada apenas para dizer que, quando leio as coisas que a Joelma escreve, encontro poesia.

Nos textos em prosa do Fernando também há uma grande pulsão, cujo delinear da natureza mereceria capacidade de análise e exposição maior que a minha no momento.

Em que pesem pendengas de ordem técnica, da leitura de ambos advém um inegável prazer estético. Ou, como pede que eu acrescente meu lado mais pragmático, muito mais que isso.

Mas eu sou suspeito, apreciador confesso que sou do jogo de tensões entre sentidos possíveis.

quinta-feira, setembro 18, 2003

Depois de alguma (ou muita) hesitação, enfim, a Flávia, que trabalha também por aqui, abriu seu blog: Blog'n Me.

É sempre uma brisa de ar fresco surpreender-se positivamente com as pessoas.

E o mundo reverencia, enquanto a tarde morre, os últimos 3 minutos e 28 segundos de Bleeding Me.

Metallica.

Load.

Êxtase.

R$ 90,00 o ingresso mais barato, segundo reza a lenda.

Mas é isso, ou tentar a sorte na rádio do patrão.

Procurando direcionar a mente para assuntos mais palatáveis, resolvi dar um rolê pelo bom e velho Suck My Toe, e lá me pus a fazer comments, até que cheguei num post sobre a Björk.

Ler sobre ela foi conseqüência, assim como foi chegar a esses caras aqui.

Alguém conhece??

E eu queria muito abolçar, sabe?

Eu tô meio assim esses dias.

Sei lá.

Help?

quarta-feira, setembro 17, 2003

Acabei de receber por e-mail da Salvine:


Super Interessante!

De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa irotpmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.


Então, tá.

E eu estou pensando seriamente em pedir demissão. Outra vez.

Não vai ser nada bom. Pra ninguém além da funcionária do DP e de sua sacrossanta superior.

Who cares.

Então, num belo dia, o pessoal do Los Hermanos achou que deveria escrever uma música sobre mim e colocar em seu novo álbum, Ventura.

Apropriadamente, a chamaram de Cara Estranho, and it goes a little something like this:


Olha lá, que cara estranho que chegou,
parece não achar lugar,
no corpo em que Deus lhe encarnou.

Tropeça a cada quarteirão,
não mede a força que já tem,
exibe à frente um coração,
que não divide com ninguém.

Tem tudo sempre às suas mãos,
mas leva a cruz um pouco além,
talhando feito um artesão,
a imagem de um rapaz de bem.

Olha ali, quem tá pedindo aprovação,
não sabe nem pra onde ir,
se alguém não aponta a direção.

Periga nunca se encontrar,
será que ele vai perceber,
que foge sempre do lugar,
deixando o ódio se esconder.

Talvez se nunca mais tentar
viver o cara da tv
que vence a briga sem suar
que ganha quase sem querer.

Faz parte desse jogo,
dizer ao mundo todo,
que só conhece o seu quinhão ruim.

É simples desse jeito,
quando se encolhe o peito
e finge não haver competição.

É a solução
de quem não quer perder aquilo que já tem
e fecha a mão pro que há de vir.

Ia, ia, ia...



Só não me lembro onde foi que nós nos conhecemos, nem de ter conversado por tanto tempo ou sobre assuntos que lhes permitissem descrever minha existência assim con tanta propriedade.

Mas tá aí, estou aí, já assobiado pelos transeuntes, tocando nas melhores rádios, e à venda nas melhores casas do ramo.

segunda-feira, setembro 15, 2003

I

eu vivo em um hotel/ e devo continuar escrevendo/ se for pra ser melhor que todos os outros/ tipo patinando no gelo/ tipo asfixiando/ nos seus próprios gases/ você está só esperando/ vivo em um hotel/ mas não estou viajando/ entre dois pontos, suspenso no ar,/ estou levitando/ acima da terra/ abaixo do céu/ olhos tipo estática/ nos meus três metros/ da cama às paredes/ há um gênio dormente/ deixe-me aqui à minha própria sorte/ o chamado pode vir a qualquer hora/ eles estão tocando canções de amor no rádio hoje à noite/ não consigo me relacionar com isso agora/ nota para mim mesmo: ninguém liga. sua voz é comum/ em amontoados preocupados eu digitei por quilômetros e ninguém percebeu/ eu vou começar/ eu vou endireitar/ este terror matutino/ eu fui beijado/ entre as orelhas/ pelo erro humano/ deixe-me aqui na minha/ eu preciso de uma palavra para mudar minha vida/ eu amarrei meus tornozelos às pernas da mesa com fios/ ele não consegue escrever quanto mais digitar/ deixe-me aqui à minha própria sorte/ não consigo pensar com todo esse barulho/ estão tocando canções de amor no seu rádio esta noite / eu não pego essas músicas no meu / você está sempre f***ndo com a minha vida / você está sempre f***ndo com a minha vida / você está sempre f***ndo com a minha vida


II

palavras em minha cabeça / átomos dividindo os duplos / pedras dentro da minha cabeça de novo / isso me mantém longe da sua cama / faz de mim moleque de recados aquático / para fazer uma busca em meu lago atrás de cicatrizes / será que as estrelas conspiram / para nos matar de solidão? / será que eu estou tão inspirado / que eu poderia salvar a nós dois? / fiquei acordado a noite inteira / esfregando palavras, mas elas não acenderam / agora o sol diz / “olha a bagunça que você fez” / com uma sacola de cerveja / presa nos braços como se fosse o último amor possível / segurando assim para manter as mãos longe das palavras / será que as estrelas conspiram / para nos pregar como a borboletas? / uma vida sendo julgada / pelo olhar fixo e quente da américa / amanhecer no cemitério numa crise de nervos / vi meu anjo jogando charme para estranhos / eu estava indisposto, era minha a culpa / eu vim para o enterro e acabei ficando / verso em minha cabeça / as primeiras luzes da manhã fazem sulcos nos morros como ancinhos / transformando a paisagem em linhas / descobrindo os membros espectrais / conectando os pontos eu encontro o nome / em um dicionário de rimas cor-de-laranja / amanhecer no cemitério numa crise de nervos / vi meu anjo inventando estórias para mim / esse anjo, eu agora sei que é e sei que sua intenção era me salvar / com um dicionário de rimas cor-de-laranja / será que as estrelas conspiram / para irem nos chocando aos pouquinhos? / será que alguém consegue sobreviver à loucura que vem toda vez que o amor se apresenta?



I:
banda: jets to brazil
álbum: orange rhyming dictionary
música: i typed for miles
tradução até que bastante fiel: luis

II:
banda: jets to brazil
álbum: four cornered mind
música: orange rhyming dictionary
tradução profundamenta adaptada: luis



O único problema é que (obviamente) nem é mais bem isso.

After all: who cares?

E nem tenho comentado o blog do Fernando como ele merece.

I knew his blog was long overdue.

Comprove.

Por fim:

foi um grande alívio constatar que o blog preto não caiu na própria armadilha.

Teria ficado muito decepcionado, otherwise.

Não que eu tenha qualquer coisa com isso, mas foi assim que me senti, e precisava dizê-lo.

Gostaria muito de saber que ferramenta as pessoas usam para saber por que strings os viajantes chegam ao blog deles.

Um amigo(?) teve várias visitas por cause de uma frase pseudo-pornô, a Lisa teve um visitante atrás de seios pequenos, e outro ainda, que eu acabei de descobrir, recebeu alguém atrás de Gim Morrison.

O Nedstatbasic (aquele quadradinho azul no pé desta tela) não dá esses detalhes.

Que cyberventos trazem pessoas até aqui??

(Profundamente curioso.)

Por falar em TV: começou no Brasil, pela HBO, a terceira temporada de Six Feet Under.

Noticio (?) com algum atraso, mas ainda está, a série, no segundo capítulo de treze. É só correr que ainda dá tempo.

O único problema para os recém-chegados vai ser a dublagem ridícula que as duas primeiras temporadas receberam. 78,3% da emoção dos personagens se perdeu no fanhosear modorrento dos dubladores brasileiros. Quem tiver tecla SAP sofre um pouco menos, já que os dubladores hispanohablantes são um pouco menos enfadonhos.

Outro detalhe é que, por algum motivo insondável, esses episódios estão sendo transmitidas pela Warner. Lá, acho que a primeira temporada está em vias de findar-se.

Ainda assim, recomendo a tod@s, porque essa série é comida para cérebros subnutridos, além de propiciar ao espectador a vivência de uma série de experiências fundamentais para o amadurecimento de qualquer ser humano.

Falo em vivência por um motivo muito justo: plágio ou não (como se verá mais abaixo), Alan Ball, o cabeça por trás da família Fisher, conseguiu criar um conjunto de personagens tão incompletos e imperfeitos quanto qualquer um de nós. Não há repostas prontas em nenhum capítulo, não há saídas fáceis, e tudo tem conseqüências mais ou menos definitivas para a situação dos personagens. Enfim, não é uma série de enredo e situações mirabolantes. Todos os personagens são perfeitamente possíveis, e em várias situações você ira pegá-los dizendo e fazendo aquilo que você já fez/disse ou gostaria de poder dizer/fazer.

Isso sem contar o esmiuçamento da dinâmica familiar norte-americana, o que é um assunto de profundo fascínio para mim.

Se é possível amar personagens como se ama pessoas... bom, eu não preciso completar a frase.

Refúgio simplista/passível de crítica (ou talvez nem uma coisa nem outra), os Fisher são minha família adotiva, e eu sempre cresço muito junto com eles, ou no mínimo aceito um pouco mais o quanto essa vida é ridícula e obscura enquanto nela a gente vive.

Depois, um dia, tudo vai fazer sentido. Até lá...

...as respostas da vidas se espalham e se escondem em um punhado de seriados televisivos.


---


E enquanto os prêmios de SFU se multiplicam na TV americana, uma roteirista acusa a Time Warner de plágio, e diz que a idéia da série é dela.

Vai saber.

Influenza Della Stagione

Padeço de uma doença infecciosa produzida por vírus e que, a par de fenômenos gerais (febre, cefaléia, mal-estar, etc.), produz manifestações respiratórias, tais como irritação nasofaríngea e laríngea, e espirros.

Oriunda, talvez, do fato de eu ter assistido TV por horas deitado no assoalho frio e úmido nestes últimos quatro dias de temperaturas pseudo-saáricas (30º C durante o dia, 9-15º C à noite).

O que acontece com o mundo às quatro da manhã?? Nestes meses de insônia invernal, aprendi a reconhecer o horário 1) pelo som do jornal sendo jogado portão adentro (+/- 3h45 e 2) pela queda absurda da temperatura, quando fica frio demais até pra continuar existindo (+/- 4h15).

Percebi isso pela primeira vez numa das minhas muitas madrugadas absurdas, que começam mde um jeito e terminam só Deus sabe como e onde. Mas daquela vez meu corpo não enfrentava o frio sozinho, pelo menos.

Mas isso importa (um pouco) menos do que o fato de que, no momento, estou com a macaca. Respirar é um sacrifício à parte; alguma coisa dói na minha narina direita, e a cada dez inspirações pelo nariz, sou forçado a fazer uma respiração completa com a boca, o que eu acho meio decadente.

Todas as janelas da sala estão fechadas e o aparelho de ar condicionado está desligado.

Assim passou-se o dia, até que, por volta das oito e meia da noite, uma pessoa tentou curar minha falta do ar com paçoca.

Daquelas Amor.

Diz, perdi alguma coisa???

Lola e Leo:

Eu li e pensei muito sobre o que vocês dois escreveram.

Recebi ainda há pouco um daqueles e-mails piegas de autoria desconhecida que eu sempre deleto, mas que, desta vez, tem algo a ver com o que eu diria se pudesse para e colocar em ordem meus pensamentos.

É assim:

DUAS HISTÓRIAS, DOIS DESTINOS

"Julgamos a nós mesmos pelo que nós somos capazes de fazer, enquanto os outros nos julgam pelo que já fizemos".

*

Certa vez um garoto entrou na sala de emergência de um hospital depois de ter sido atropelado. O motorista que o socorreu, ao ser interpelado para efetuar o depósito necessário ao atendimento, informou que não possuía, naquele momento, dinheiro ou cheque que pudesse oferecer em garantia, mas certamente, se o hospital aceitasse, poderia efetuar o depósito na primeira oportunidade. O atendente, na impossibilidade de liberar o atendimento, mas, com a vantagem de ter um dos diretores do hospital, que também era médico, de plantão naquele momento, resolveu consultá-lo. Todavia, por não ter dinheiro nem garantias para o tratamento, não liberou o atendimento, fato que levou a criança atropelada a falecer. O diretor, novamente chamado para assinar o atestado de óbito do garoto, ao chegar para o exame cadavérico, descobre que o garoto atropelado era seu filho, que poderia ter sido salvo se tivesse recebido atendimento.

*

Antonio, um pai de família, um certo dia, quando voltava do trabalho, dirigindo num trânsito bastante pesado, deparou-se com um senhor que dirigia apressadamente. Vinha cortando todo o mundo e, quando se aproximou-se do carro de Antonio, deu-lhe uma tremenda fechada, já que precisava atravessar para a outra pista. Naquela hora, a vontade de Antonio foi de xingá-lo e impedir sua passagem, mas logo pensou: "Coitado...! Se ele está tão nervoso e apressado assim... Vai ver que está com um problema sério e precisando chegar logo ao seu destino". E pensando assim, foi diminuindo a marcha e deixou-o passar. Chegando em casa, Antonio recebeu a notícia de que seu filho de três anos havia sofrido um grave acidente e fora levado ao hospital pela sua esposa. Imediatamente seguiu para lá e, quando chegou, sua esposa veio ao seu encontro e o tranquilizou-o, dizendo: "Graças a Deus está tudo bem, pois o médico chegou a tempo para socorrer nosso filho. Ele já está fora de perigo". Antonio, aliviado, pediu que sua esposa o levasse até o médico para agradecer-lhe. Qual não foi a sua surpresa quando percebeu que o médico era aquele senhor apressado para o qual ele havia dado passagem!



"Esteja sempre alerta para ajudar o próximo, independentemente de sua aparência ou condição financeira. Procure ver as pessoas além das aparências. Imagine que por trás de uma atitude, existe uma história, um motivo que leva a pessoa a agir de determinada forma".



Eu acredito totalmente nisso.



quinta-feira, setembro 11, 2003

No momento, tudo o que eu quero é chamar o Hugo.

Mas eu não vomito desde os seis anos, e é sempre um saco quebrar uma invencibilidade dessas.

E, sim, eu me lembro.

Uma pena que eu não divulguei a tempo o Atentado Poético promovido aqui em São Paulo pela Brasil 2000 FM (107.3), além da corrente de e-mails citada pela reportagem.

Sinto vergonha por não estar participando de um movimento desses.

Antes de voltar pro texto que eu estou revisando:

o Fernando escreveu algo muito interessante dia 09 de setembro.

Interessante mesmo, tanto um quanto o outro texto.

Doces Mo-mentos.

Meu hálito anda incomodando tanta gente? Toda hora me oferecem balas e afins. Estou encanando com isso também. É todo um pudor excessivo de minha parte, ou nem tanto. Penso em algumas pessoas que, alguns dias ou sempre, falam de perto e nem ligam pra isso, se estão com o hálito fresco ou não. Algumas vezes é difícil manter alguma naturalidade.

É difícil saber como as pessoas lidam com essas coisas. Se elas acham natural, ou não, se suportam, ou não, e porquê.

Lembro-me de uma instrutora de um curso de treinamento para professores de inglês, certa vez. Hardcore breath. Uma colega precisou chegar ao extremo de agachar-se enquanto a instrutora falava, para escapar. Foi uma cena bizarra. Havia um olhar de exasperação na cara da instrutora. Será que ela sabia? É provável, é provável.

Tristemente, as atitudes delas mais tarde fariam seu hálito parecer um campo de flores, em comparação.

Ah, eu não vou arrumar os acentos, dessa vez.

Que saco!

De que adianta ficar escrevendo em português??

Rezar é um ato muito engraçado.

Tanto mais pelas energias que envolve, e põe em movimento, e por suas premissas.

Então, eu, Luis, antes de dormir falei com Deus, ou com os Bons Espíritos, pra perdir alguma luz nesse mar de desditas que é minha vida.

E eu tentei emanar energias positivas para a coitada da planta que jaz em cima da geladeira, tão representativa da casa em si, do ambiente, das energias do lugar: por mais que se molhe o pequeno xaxim, nenhuma das três ou quatro folhas que restaram no topo do caule seco e quebradiço dá sinal de vida.

Presente de dia das mães.

...

Mas eu rezei, antes de dormir, um pouco por desespero, por exasperação, por estar mais uma vez perto do fim da linha, chorando discretamente por tudo e qualquer coisa, construindo de novo dentro de mim uma bomba depressiva que implodirá, a mim e ao meu mundo, destroçando as esperanças que venho nutrindo por meio de um firme propósito de fingir que tudo ficará bem em algum momento.

E eu rezei, e dormi, e quando acordei pela primeira vez, parecia ter entendido alguma coisa, ainda que vagamente, como se tivesse percebido pelo mais leve ruído metálico nos trilhos que, por trás da curva, mas longe ainda, o trem se aproxima.

E aí eu dormi outra vez.

Logicamente, quando eu acordei já atrasado para o serviço, toda e qualquer compreensão do que quer que seja havia desaparecido.

No ponto de ônibus eu pensei ter sido observado com um olhar de interesse recíproco, mas não.

Qando eu dei por mim, estava quase chorando, mas pode ter sido por causa do vento.

É, por causa do vento, e das coisas que estão sempre sendo levadas pra longe.

A temperatura em São Paulo caiu mais ou menos 10 graus de um dia para o outro.

Ontem eu rezei antes de dormir, e acordei estranhamente bem.

A sala onde trabalho é um festival de musiquinhas exóticas de celular.

Me atrasei por causa do ônibus e do trem: somados, foram mais de 25 minutos de espera. Eu até saí de casa mais cedo, mas resolvi passar na banca de jornais (nem saiu nada novo) e esse talvez tenha sido meu erro, perder um ou dois minutos.

Ontem eu tive que fazer hora para pegar o mesmo ônibus e olhar naqueles olhos de novo. Serão meus, mais tempo ou menos tempo. Quantos dias até que nos encontremos de novo? Hoje, por mim. Mas há compromissos outros.

Eu preciso ir para a Casa do Consolador.

E as imagens continuam não se sustentando, no Blogger.com.

Assim como os acentos, que vêm e vão.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Sei que não há uma conexão lógica imediata entre os dois posts abaixo, mas isso não é extremamente humano, essa incoerência, essa inconstância?

Tão bonitinho.

Como diria Adao Iturrusgarai:



Recebi por e-mail:

Havia um cego sentado na calçada, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira que, escrito com giz branco, dizia:

"Por favor, ajude-me, sou cego".

Um publicitário da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz, virou-o, pegou o giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.

Pela tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas.

O cego reconheceu as pisadas e lhe perguntou se havia sido ele quem reescreveu seu cartaz, sobretudo querendo saber o que havia colocado.

O publicitário respondeu:

"Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras".

Sorriu e continuou seu caminho. O cego nunca soube, mas seu novo cartaz dizia:

"Hoje é Primavera, e não posso vê-la".

Devemos mudar a estratégia quando não nos acontece alguma coisa que desejamos.

terça-feira, setembro 09, 2003

Oi Suzie!!

Você está me lendo??

Pois é.

A gente escreve no Word, joga no blogger e aí é isso: uma luta.


Lola



Este é um post dedicado à Lola, pessoa com quem, pelas coisas que posta em seu blog, eu tenho muito em comum.


Tudo o que ela escreve sobre sua mãe eu poderia escrever sobre o Sr. meu pai, por exemplo.


Mas vamos à pergunta que ela me fez: por que eu disse em seus comments que eu fui um filho-monstro pra minha saudosa mãe.


Eu teria que entrar em questões extremamente pessoais para responder isso direito, o que eu não acho de bom tom fazer neste blog em, vista da audiência que por ora eu tenho: pouca, mas bastante ligada à minha vida cotidiana. Com algumas pessoas eu não tocaria em certos assuntos. Acho que todo mundo é assim, não é?


Eu, Luis, pessoa comum.


Anywayz, os contornos da situação eu posso muito bem mostrar pra você(s).


Lá pelos idos de 1992, eu tive uma briga muito séria com a Dona Ana, na verdade um choque de expectativas beirando o colossal. Um foi para o outro o asteróide que sumiu com os dinossauros quando caiu na Terra. De minha parte, fiquei muito (e insisto: muito) decepcionado por 1) ter tido minha privacidade devassada (= confiança traída) em nome de situações que não devia respeito a mais ninguém; e 2) ter tido comprovada a tese de que “santo de casa não faz milagre”, já que minha mãe era psicóloga e deveria ter, eu pensava, uma postura mais esclarecida com relação a muitas coisas, a começar por sua relação de mulher abusada pelo marido alcoólatra. Uma coisa Raquel mesmo, sem qualquer Fred pra trazer uma brisa, um alívio. Aliás, estes olhos que a terra há de comer viram por longos vinte e três anos cenas que faria dessa novela um conto infantil.


Que, aliás, nada têm de infantis se você for ver bem, mas isso é outro assunto.


Entonces, depois desse choque ficamos meses sem nos falar. Mesmo depois, ficou aquela situação estranha. Ninguém na família entendia o que estava acontecendo, pois antes éramos unha e carne, nos apoiando no sem-fim de momentos traumatizantes gentilmente cedidos pelo Sr. meu pai & cia. ltda.
(Drury’s, 51, Velho Barreiro e afins).


Pouco tempo depois disso, em 94, eles se separaram. Eu estava numa crise desgranhuda por n motivos, não sendo o menor deles o círculo vicioso que já tinha se transformado minha vida acadêmica (estudo há doze anos e ainda não me formei), meu emprego noturno que já não estava mais me fazendo feliz, o amor que nunca acontecia, e meus muitos erros cotidianos.


Ela se mudou com meus irmãos para um apartamento horrível no Centro da cidade. Horrível mesmo, deprimente. Não poderia ter sido cenário mais correspondente ao fim horrível que ela teve.


O apê era enorme, mas o prédio acho que já era decadente antes mesmo de ter sido inaugurado. Não consigo imaginar alguém sendo feliz ali, naquele muquifo, a trinta metros de conde começa o túnel do metrô logo
depois da estação Pedro II. O andar, baixo, não salvava ninguém do barulho do trânsito, nem da poluição. A vista era até interessante, mas também limitada.


E havia as baratas. Em tudo e em todos, elas eram onipresentes. Nos armários e nos móveis, nos pratos, garfos e copos, no banheiro e nos quartos, na sala, no canto onde eu dormia. Vezes sem conta acordei em íntimo contato com elas. Já acordou com uma barata andando em seu olho? Nem queira.


Por conta de meus próprios problemas (e aqui começa meu filhomonstrismo) eu levei quase dois meses para juntar-me a eles no apartamento em que eles dormiam num tapete estendido no chão. Os móveis vieram bem depois, aos poucos. Mais uma briga por conta disso.


Alguns meses depois que fui pra lá eu saí do emprego e da faculdade que fazia. Chutei os baldes, que aquilo que eu tinha não era mais vida. Comprei um poderoso 486 DX4/100 com meu fundo de garantia e vivi de renda por alguns meses, até que gastei tanto com BBS (a internet da época) que fiquei a
zero de novo.


Virei um cara preguiçoso pra caramba. Na verdade há um outro lado nisso: desde que me entendo por gente eu passo muito mal, o tempo todo como se tivesse acabado de correr uma maratona. É um desânimo que parece vir dos ossos e correr pelas veias, e que não dá vontade de muita coisa além de morrer. Pois é, minha mãe psicóloga nunca se importou com o fato de que tinha um filho deprimido. Clinicamente, talvez. Era bem mais fácil rotular tudo como preguiça, e não tomar nenhuma outra atitude.


Sabe que isso me deixa até feliz? Meus pais nunca tomaram qualquer atitude a meu respeito. Nunca. Indiscutivelmente há um tanto deles em mim, mas uns 70% do homem que eu sou hoje eu tive que aprender a ser por mim mesmo. Às vezes sinto que me criei sozinho. Mesmo coisas idiotas e não-mencionáveis eu tive que sacar sozinho. Eu poderia escrever páginas sobre como me sinto isolado em minha família, mas isso é assunto pra outro post, ou até pro outro blog.


Enfim. Desempregado e sem dinheiro, sem diploma e sem amor ou auto-estima, era assim que eu estava quando minha mãe começou a ficar doente. Do nada, aquela mulher que era uma fortaleza ambulante e havia desde que se casou liderado e carregado sozinha casa e dois, depois três, filhos, caiu de cama, e passou a andar de um médico para o outro por conta de uma infiltração no pulmão de causa desconhecida. Seus pulmões enchiam-se de
líquido, e respirar lhe ficava impossível.


Eu assisti por meses minha mãe definhando a olhos visto, só hoje me dou conta disso. Minha certeza da invencibilidade dela era tão grande na época que acho que não acreditava na extensão daqueles sintomas. Eu a vi perder peso e ficar com o rosto fundo, caído. Eu a vi tossir e ofegar como se fosse virar do avesso. Eu vi minhas tias carregando-a pelos cantos, e perdi a conta das licenças médicas.


Nem por um momento pensei que talvez ela precisasse de ajuda financeira. Eu gastei R$ 400 com telefone enquanto ela deveria estar gastando o mesmo com medicamentos e táxi e consultas, além de todos os gastos da casa e meus dois irmãos na escola. O do meio, por sinal, iniciava-se na maconha, e eu não tinha coragem para enfrentá-lo ou fazer qualquer coisa.


Eu me fechei totalmente, alheio a tudo e a todos. Só me importava minha própria solidão, e meu desânimo reinava soberano. Foi aí que (re)comecei a ter rompantes auto-destrutivos], talvez como punição inconsciente
por minha inação diante do mundo que desmoronava ao meu redor. Um dia fiquei tão nervoso com alguma situação que nem me lembro que destruí todo meu quarto.


Minha tia, ao ver aquilo, meio que calou-se, consternada. Minha mãe sentou-se ao meu lado (eu chorava ou estava apenas sentado no sofá-cama em que eu dormia, rodeado por milhares de livros e revistas espalhados pelo chão) e acho que aquele foi o último gesto de verdadeiro carinho que ela pôde ter comigo. Apesar de toda a distância daqueles últimos anos, naquela momento ela foi minha mãe, e estava realmente preocupada comigo, mais até do que consigo mesma.


Lógico, isso não impediu que eu a fizesse chorar pouco tempo depois, quando num domingo de manhã ela me pediu que eu fosse à feira porque ela não agüentava andar e carregar o carrinho. Era por volta das dez da manhã de uma dia bonito, ensolarado. Eu nem estava exatamente dormindo.


Mas, lógico outra vez, eu me senti indignadíssimo. Oras, porque ela não mandava meu irmão?? Eu ignorei a súplica que havia em minha voz, meu ultraje falava mais alto. Depois de muitos minutos de insistência e alguma
chantagem, se é que se pode chamar assim quando uma pessoa seriamente doente expõe suas mazelas e se sente mal por ter que depender de terceiros, eu me levantei enfurecido, bufando mesmo, e joguei meu cobertor longe.


Ela começou a chorar, dizendo que era como se eu tivesse batido nela, que se eu pudesse era o que eu teria feito, e o que ela tinha feito para merecer aquilo além de pedir um favor que ela realmente não
conseguiria fazer??


Não conheço palavras que descrevam o amargor daquilo que eu senti por mim mesmo na hora, ou o que sinto hoje quando me lembro disso. Hoje eu vejo com clareza a pequenez da minha atitude, e até consigo justificar-me: eu estava com medo, muito medo do que estava acontecendo. Eu sentia que, se eu me envolvesse, aquilo iria me consumir, e que eu morreria junto com ela ou algo assim. Não sei. Eu estava com medo de não ser capaz de fazer tudo o que ela fazia, talvez. Não sei mesmo. É difícil esmiuçar esse tipo de assunto. Minha depressão era um cobertor quentinho, no resto do mundo era tudo frio, e só isso.


Ainda hoje é assim. Menos, por certo, mas talvez nem tão diferente.


Sei que poucos meses depois ela foi pro hospital e não mais voltou. Lá, ela foi se desfazendo lenta, mas inexoravelmente. Eu juro que aquilo tudo parecia um filme, algo que acontecia com alguma outra pessoa, em
algum outro mundo. Não era a minha mãe ali, ela não poderia ficar doente assim, nada de sério aconteceria, ela logo voltaria pra casa e reassumiria sua posição no leme das nossas vidas e tudo ficaria bem. Logo agora que o idiota do meu pai estava fora de nossos caminhos, não, aquilo não poderia ser de verdade como parecia.


Mas era.


A última vez que eu a vi com vida foi um pouco antes da biópsia à qual ela não resistiu. Aquilo que eu vi, aquele ser débil vomitando alguma coisa alaranjada, não era a mulher que sorria apesar de todos os problemas, e
que tinha dançado Pump Up The Jam conosco na sala em outros tempos. Não era a pessoa de quem eu herdei meu senso de ironia, minha retidão de caráter ou a benevolência que, menos vez que eu deveria, exerço. Foi ela que plantou, ou pelo menos fez crescer, a semente da maior parte das coisas que são boas em mim. De algumas coisas ruins, também, como essa resignação excessiva e a submissão à vontade alheia que são um saco, mas a vida é assim.


Na última vez em que eu a vi, eu sabia que era a última vez que eu a estava vendo. A gente sabe essas coisas, não tem jeito. Eu chorei muito na escada, depois, um choro que só depois, no velório, eu fui saber de
onde veio. Eu sabia que eu tinha me despedido dela, simples assim.


Aí já era tarde demais pra reverter meu filhomonstrismo. O que poderia ter sido feito, foi feito, não há como desfazer isso ou os muitos efeitos. Será que, se eu tivesse cuidado melhor dela, ela teria sobrevivido?
Será que hoje, onde ela está, a mágoa que eu causei ainda pesa muito? Será que ela está bem e feliz? Eu sou espírita, o que significa que histórias de céu e paraíso (o inferno pode ser aqui, e é, muitas vezes) não dizem nada pra mim. Em momentos tive provas de que não, ela não estava nem bem nem feliz, e eu não sei o que posso fazer pra mudar isso, mesmo porque agora eu tenho de fato uma vida inteira pra botar em ordem e tenho que atuar de algumas maneiras (em minha família, especialmente) que são claramente extensões da atuação dela ou – pura e simplesmente – carma.


Mas a vida é assim.


Por isso que eu disse, Lola: ainda bem que a gente evolui.


Pelo amor ou pela dor.


Beijos.






quinta-feira, setembro 04, 2003

Que importam as pequenas coisas??

Os últimos 2 minutos e 50 segundos de The Outlaw Torn, do Metallica, fazem valer a existência de qualquer cristão.

O solo que começa a 1 minuto e 45 segundos do fim definitivamente não é deste mundo; é uma das coisas mais lindas que já me tocaram os ouvidos desde que pus estes pés que hoje me carregam nos chãos deste mundo.

E, sim, o resto da música é igualmente sublime.

Pois é. E ainda tem gente que fala mal do Load...

Quando nada mais puder dar errado, conte com o Blogger para comer todos os seus acentos.

Sobre o que resta do dia

Porque eh necessahrio oracular sobre o que resta do dia.

Ou talvez apenas refletir sobre o que restar do dia, depois que ele tiver acontecido.

Apenas para concluir de um ou de outro jeito que a vida eh isso, that it sucks, and that you can't simply leave it.

Um dia depois de outro dia depois de muitos dias.

Deus me deu de presente de aniversahrio sol e um cehu de azul sem-fim, justo contraponto a um mundo desenhado em tons de cinza.

E a meus erros, que me parecem todos tao frios.

O que esperar do que resta do dia? (O peso da palavra "resto": o resto do dia, o resto de mim, o resto do meu cavanhaque.)

O que tenho eu a ver com Proust? Eu ia escrever sobre ele alguma coisa... Que direito tem algueim de escrever sobre um autor que nunca leu? Soh porque ele parece ter entendido algo sobre tempos perdidos??

Proust era filho de mae judia...

No que resta do dia a uhnica ahrvore que se ve baloucada pelo vento preguicoso vai se fundir aa  escuridao que fatalmente virah (sempre vem fatalmente a escuridao). A torre de vidro esverdeado do Shopping Villa Lobos vai se fundir aa escuridao que fatalmente virah (sempre vem fatalmente a escuridao). Na outra janela, a fahbrica abandonada, no fim do corredor, aa esquerda, o vasto galpao subutilizado, para aleim dos guardas da portaria, todas as ruas e todos os caminhos, tudo vai se fundir aa escuridao que fatalmente virah (sempre vem fatalmente a escuridao).

(ctrl+c, ctrl+v)

Terah cada palavra sido um dia parte de um todo maior, fenomenal e espleindido, impossível de ser concebido por seres que usam, quando muito, dez por cento de sua capacidade de criacao/compreensao/processamento? Livros teim folhas, e isso eh sintomahtico: palavras podem ter caih­do nesse mundo como folhas secas de um livro divino, secas mas ainda assim nao de todo mortas: mortas o suficiente, porque somos ainda muito pequenos para o que eh realmente vivo.

Achamos vasto entretenimento nessas folhas, esses dejetos de um outono transcendental, refugo de uma infinita floresta literahria mantida por tronos, serafins ou alguma classe qualquer de entidades semi-divinas, enquanto Dona Evolucao nao vem. Proust, Joyce, Shakespeare(s), Byron, Milton, Dickens, Yeats, Dostoyevski, Puchkin, Gogol, Ramos. Ateh mesmo Tolkien, que nem por um segundo me engana. E Baudelaire. E Cazuza e Russo, e o irr(incons)tante Caetano Veloso: rakes.

Para quem nao tem mais mae e/ou sentido e/ou caminho e/ou companhia e/ou sorte e/ou porto seguro na vida, um ninho de palavras mal-trancadas eh abrigo, bastante ou nao.

Veja Proust, que perdeu a mae aos 34 mas seguiu escrevendo, ateh morrer, escrevendo sobre tempos perdidos.

Infinitamente consciente da minha indiscutivel pequenez, seguirei escrevendo ateh que este dia morra, ou eu antes dele.

Afinal, resta mais o que?

terça-feira, setembro 02, 2003

Dar seqüência a qualquer empreitada é uma arte.

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